Significados Ocultos e Linguagem Figurada nos Escritos de G. I. Gurdjieff




(Escavações do cachorro enterrado)
John Henderson, 2007









Nota: O "Prefácio" e os três primeiros capítulos deste livro são declarados estarem "Livres de direitos autorais", e, com tanto que fidelidade seja mantida, eles podem ser copiados ou reproduzidos em qualquer meio, e distribuído livremente, sem restrições, permissões ou notificações adicionais do autor ou do editor deste livro.
John Henderson




Prefácio
Por bem mais de meio século Belzebu tem vagado nos sertões de nossas mentes, encontrando milhares e milhares de
estudantes sinceros que se esforçam muito para entender sua mensagem, mas apesar de todos os nossos esforços, depois de anos e até décadas de estudo, permanecemos perplexos e aturdidos com o peso e a profundidade incríveis de todo ele, sem aparente solução à vista.
Ainda assim, estamos convencidos de que algo de grande valor está ligado aos livros de Gurdjieff, mas o que é, e como podemos chegar a isso?
A resposta continua a ser elusiva. De todo jeito
, e depois de todo esse tempo, parece que poderíamos usar alguma ajuda.
Felizmente para nós, o plano cuidadosamente definido de Gurdjieff inclui um pequeno algo para nos ajudar em nossa tentativa de compreender sua mensagem, e essa ajuda está relacionada com o que é chamado de linguagem.
No ano de 1916 Gurdjieff disse que algumas coisas como "tipos" e as 48 leis:
... Não podem ser definidas em linguagem comum, e a linguagem em que poderiam ser definidas vocês ainda não sabem e não saberão por um longo tempo. (Fragmentos, p.246)
Agora, se a linguagem ordinária é insuficiente para descrever as coisas como buscamos, então que tipo de linguagem é necessária? De acordo com vários alunos de Gurdjieff de longa data e "antigos alunos" pessoalmente preparados, nós simplesmente precisamos aprender a sua linguagem figurada, a linguagem em que muitas vezes ele falava e escrevia. E embora Gurdjieff tenha dito que nós não conheceríamos essa linguagem por um longo tempo, sendo que ele fez esse comentário quase um século atrás, talvez o "longo tempo” requerido cumpriu-se. E isso, de fato, aconteceu. Então vamos ver o que alguns "antigos alunos" especialmente preparados de Gurdjieff têm a dizer sobre o assunto; então podemos começar, com a ajuda deles, mas por nosso próprio trabalho, a desenterrar o cachorro profundamente enterrado de Gurdjieff, enterrado a tanto tempo, e, finalmente, decifrar os Verdadeiros ensinamentos de Gurdjieff.
Assim como Gurdjieff aconselhou: "Ninguém interessado em meus escritos jamais deveria tentar lê-los em qualquer outra ordem do que a indicada", também deve-se aplicar esse mesmo conselho para os capítulos deste livro, e lê-los, da primeira vez, somente na ordem sequencial.



Conteúdo
Prefácio
I. Introdução
II. Se há Significado Oculto

III. O 'pensamento oculto' de Belzebu
(Exposisão de Gurdjieff à Revisão)

IV. Técnicas e Ferramentas da Versão exterior
(Truques de Belzebu)
V. A sociedade sábia A-Khaldan
VI. Por que o ensinamento está oculto
VII. A multiplicidade de 'Duas Coisas"
(As palavras em pares da Versão interior)
VIII. "Tzvarnoharno" Atenção: - Não Leia Este capítulo! (A menos que...)
IX. O período experimental
X. Fantasmas e superstições do Quarto Caminho
XI. Três Reis Magos e o Bezerro de Ouro
XII. Do Autor


Adendo: O arauto do Bem que virá

Posfácio

Capítulo I



Introdução

Eu ainda não conheci um idiota que, acostumado a estar folgado em um par de sapatos velhos, se sentisse confortável em novos sapatos elegantes. (Nosso Caro Mullah Nassr Eddin)


"Neném” (Baby) precisa de “sapatos” novos

Antes de começar, gostaria de dizer a todos que compraram este livro com seu próprio dinheiro suado, ou mesmo herdado, "Obrigado", e, apenas no caso de ser útil mais tarde: "De nada" (você é bem vindo), essa última observação que diz respeito tanto ao aforismo do Mullah e o dizer acima familiar a todos,"Neném precisa de sapatos novos." Mas, você pode perguntar, como é que isso se relaciona com o anterior e o que isso significa? Significa que eu, como você, tenho contas para pagar? Bem, esse poderia ser seu significado, mas acho que é mais vivo se por "Baby" quero dizer - minha nova "amante”, aquela com os famosos "seios de uma virgem" de fama Akhaldanesa, e por "sapatos", talvez eu queira dizer que ela, a minha ainda relativamente nova “amante", esteja querendo um novo acessório, talvez um colar ou algum outro tipo de "bugiganga". Sim, uma amante é um pensamento muito mais agradável.
Por outro lado, eu poderia querer dizer o seu “neném", “seu irmão mais novo” ou "sua irmã menor" precisa de sapatos novos. Mas, novamente, o que é isso – um neném real, humano ou eu me refiro à sua chamada Essência - aquela "pessoa" às vezes sentida intuitivamente dentro de você, que, apesar do seu evidente crescimento consciente, ainda é jovem e cheia de desejo e esperança, e que, não por culpa sua, foi negligenciada e deixada para trás no seu desenvolvimento evolutivo geral devido a fatores que chegaram a você devido à sociedade ignorante e aparentemente sem rumo em que vivemos; ou, é possível que eu queira dizer as duas coisas - que sua essência é o "bebê" a quem me refiro e que ele ou ela é, de fato, uma pessoa real, viva, mas quase despercebida; alguém, aliás, que não é só apenas oposto mas mesmo independente do seu ser normal?

E agora para tornar o assunto tão "claro" quanto um copo de Jack Daniel's e água barrenta, há ainda uma outra possibilidade muito real, que eu queira dizer o “neném” de Gurdjieff'.
Dentro das páginas do 'Arauto do bem que virá' por vezes Gurdjieff refere-se a esse livro de uma forma bastante paternalista, chamando-lhe "o meu primogênito”, "este meu primeiro 'filho'" e “meu primogênito na terra", tendo em vista que é perfeitamente possível que, por "O 'neném' precisa de sapatos novos", eu tenha a intensão de ocupar-me, juntamente com você, de dar ao Arauto os proverbiais "sapatos novos”. Talvez eles serão um par de bons sapatos de corrida para que o Arauto não saia simplesmente "cambaleando" da aposentadoria como um homem velho travado que mal podem se mover, mas ao invés disso vai pular fora desse mausoléu de negligência, local de sepultamento de longa data, e jogando fora o seu "manto"
começará a correr tão rápido que todos nós seremos extremamente desafiados a acompanhá-lo!
Então, qual dos pares de "bebês" e "sapatos" que eu quero dizer? Ou, eu pretendo que você tome todos os meus sentidos diferentes, individualmente e coletivamente, ao mesmo tempo?
Quaisquer que sejam as possibilidades, por agora vou deixar esse assunto dizendo o "Neném", o que quer que isso signifique, precisa de “sapatos" o que isso signifique também, novos. No que diz respeito ao quão confortavelmente esses "sapatos novos" vão calçar, você pode recorrer tanto à sua própria experiência com essas coisas novas, ou à observação de abertura acima de Mullah Nassr Eddin.

Um conselho amigável
Agora, as possibilidades mencionadas anteriormente para o significado da frase "O Neném precisa de sapatos novos", foi para todos os leitores deste livro, mas o que se segue é para poucos
idiotas especiais dentre a população geral de seres tri-cerebrais, que possuem a rara capacidade de reconhecer, e seguir, algum conselho muito bom:
Se você é sério sobre ganhar um entendimento pessoal a respeito da utilização de significado oculto de Gurdjieff, então, antes que você prossiga mais longe neste livro não se esqueça de primeiro familiarizar-se com os escritos dele - todos eles, mesmo Os Relatos de Belzebu a seu neto, que é um dos mais difíceis livros de compreender já escritos. De fato, sem um conhecimento prático da linguagem figurada de Gurdjieff é completamente impossível compreender certos aspectos do livro. No entanto, isso não é sua culpa - Gurdjieff planejou dessa forma e, além disso, não é esse o ponto.
É a transferência de certos "ingredientes" materiais (veja abaixo) em sua (chamada) mente subconsciente, que é inicialmente mais importante, e que com toda certeza deve ser realizada antes de você ter qualquer possibilidade de benefício substancial.
Portanto, se você ainda não leu esse livro do início ao fim, faça isso agora. Mesmo que ele você lhe dê sono, lute contra o sono e leia. Leia em voz alta (altamente recomendado) - ou, como Gurdjieff coloca: "como se estivesse lendo para alguém" (quando aparentemente se está sozinho), o que significa, é claro, que você deve ler em voz alta - para seu outro 'ser'. Leia de pé ou andando para frente e para trás, com um bule de café pronto; use um pano frio e úmido ou belisque ou chacoalhe seus pés, ou o que for preciso, mas leia esse livro. Este aqui vai esperar.
Este livro sobre os significados ocultos e a linguagem figurada foi bem treinado especificamente para esse fim, e irá esperar pacientemente até que você tenha feito o trabalho preparatório necessário. Leia também o Encontros com Homens Notáveis, e a Vida só é real quando "eu sou". Então você vai estar pelo menos um pouco preparado para a utilização de Gurdjieff da linguagem figurada e inculcação ilustrativa, e às instruções pessoais passadas por um verdadeiro iniciado para outro, como serão encontradas dentro das imagens dele.
Caso contrário, se você ler este livro sem ter lido todos os de Gurdjieff, o que você encontrará nestas páginas será, talvez, informativo ou de entretenimento, ou se você é tão inclinado a desfrutar de quebra-cabeças, enigmas e tal, você poderá
até achá-lo um pouco estimulante intelectualmente.
Mas também, sem qualquer dúvida será apenas coisa para “encher a cabeça", que lhe fará pouco bem, "Cookie", e, em termos de benefícios futuros de seus estudos sobre Gurdjieff, talvez fará mais do que um pouco de dano.
Eu espero que você não me ache muito moderno em chamá-lo de "Cookie", uma vez que acabamos de nos conhecer, mas é assim, realmente.
Nós somos como ...

Cookies na Cozinha
Somos todos os “cookies” na mesma “Grande Cozinha", mas em vários estágios do que é chamado de "preparo” (de estar no ponto). Agora, alguns cookies nunca conseguem passar a fase de serem massa crua, e assim, não sendo cozidos ou de outra forma utilizados, no "Fim do Dia" são simples e abruptamente dobrados de volta dentro da tigela de massa de biscoito amorfa e colocados na geladeira para serem usados um pouquinho aqui ou ali, mais uma vez, talvez amanhã, ou no dia seguinte, e no próximo, e até mesmo um dia depois - e assim por diante.
Outros, por acaso, tem vagueado por algum forno antigo furado, de baixa temperatura, onde começam mais ou meno a tomar solidez, mas apenas mais ou menos, e é um processo terrivelmente lento.
Mas você, você “cookie de sorte", vagueou para o "quarto canto" da cozinha, canto de Gurdjieff, onde, com as habilidades de um Chef Mestre, ele vai 'cozinhar' você - primeiro adicionando certos ingredientes secretos especiais que não apenas irão torná-lo um alimento muito mais saboroso para os deuses, mas, se você fizer tudo certo de sua parte, você vai descobrir que, como resultado de certos condimentos incluídos na sua receita, você vai sair do forno realmente quente dele não mais como um cookie comum, mas um com posse tanto de um ser subjetivizado como de consciência objetiva. Cookies conscientes, como você pode imaginar, são raros e muito valiosos para serem desperdiçados como simples tira gosto. Não, tais cookies não são comidos, são imediatamente colocados para trabalhar como parte da equipe da cozinha.
Agora, eu não sei o que você pode pensar dessa descrição pós-forno mais realista, devemos admitir que não é tão divertido quanto o estilo das mais populares fantasias do "Papai noel", mas eu penso que é preferível ser comido, ou vagar por esta cozinha de tamanho cósmico como uma alma perdida e errante tentando cada forno velho furado que encontra, na esperança de finalmente encontrar uma maneira de ficar "cozido".
E tenha em mente que, como membro da equipe da cozinha, há sempre a possibilidade de progressão na carreira. Ou seja, de uma consciência objetiva de um garoto da cozinha, o seu futuro será brilhante.Então, se eu fosse você, só para estar no lado seguro, eu estaria certo de me familiarizar com os escritos de Gurdjieff - leia e estude todos eles, através desse processo você reunirá alguns dos ingredientes essenciais, e depois volte aqui, onde este livro estará pacientemente aguardando o seu retorno. Então, com a ajuda prestada por diversos "antigos alunos" preparados por Gurdjieff, vamos começar a abrir a porta do forno.
Aliás, e depois de dizer tudo isso, vou acrescentar o seguinte: não há nenhum mal em ler os três primeiros capítulos deste livro, mas abandone-o e não passe do capítulo intitulado "O Pensamento Oculto de Belzebu", até que você tenha lido e ponderado todos os livros de Gurdjieff - na seqüência requerida.


Se há significado oculto?

Tornar-se-á o amigo do Grande Chifrudo aquele que se aperfeiçoar até grau de razão e de ser que lhe permitirá fazer de uma mosca um elefante (O Mullah Nassr Eddin)

Assim como Gurdjieff aplicou o 'método' do Legominismo para a criação de seus escritos, do mesmo modo teremos de ser metódicos na nossa abordagem desde sua abertura.
Dentre as muitas questões que naturalmente surgem em nossas mentes sobre esse assunto, há três questões importantes que nos ajudarão a manter o foco e senso de direção necessários para a sua eventual solução, e essas três perguntas são: "Se há” significados escondidos dentro dos escritos de Gurdjieff;
e, em caso afirmativo, "Por que” ele iria recorrer a tais "truques" diabólicos para esconder seus verdadeiros pensamentos e, finalmente,"Como” ele os escondeu? - (Se há, por quê e como).
A importância da primeira pergunta, "Se há?" Parece tão óbvia que até a minha professora da terceira série, Sra. Moore, teria sido capaz de compreender o seu significado. Ela tinha uma frase favorita, uma que ela usava para quase todas as meninas em sua classe - "Bonito é, como bem faz", querendo dizer, é claro, que a função de uma coisa é mais importante do que sua aparência, e nós podemos aplicar esse pedaço de sabedoria à nossa primeira pergunta, pois ela serve a função excelente de dirigir cada um de nós, individualmente, ao caminho correto - independentemente da resposta.
Ou seja, se no primeiro capítulo, pudermos estabelecer firmemente que tais significados ocultos existem de fato, então nós já saberemos o suficiente para investir mais tempo e esforço necessários para encontrá-los, ou, por outro lado, se não pudermos confirmar sua existência, então nós, ou pelo menos você, saberá o suficiente para parar de desperdiçar seu tempo em tais "Frivolidades", e assim ir para o bar local ou para o centro comunitário, onde você pode simplesmente comer, beber e ser feliz, ou, por outro lado, você pode encontrar uma das muitas semelhantes "Catedrais da vida social" locais, onde você será recebido de braços abertos e poderá se juntar às multidões “amáveis” da humanidade conforme você se entrega a esta ou àquela marca comunal de bem-estar "Hocus Pocus".
Em suma, quase qualquer coisa que você optar por fazer seria melhor do que sentar com o nariz enfiado neste livro e nos livros de Gurdjieff procurando significados ocultos que não existem - a não ser, é claro, que eles existam.
Assim, a função da nossa primeira pergunta, "Se há?" Constitui o que a Sra. Moore chamaria de uma questão muito bonita mesmo. Na verdade, é uma beleza.
A segunda pergunta, "Porquê?" Faz-me lembrar a minha professora da segunda série, a Sra. Byrd, porque eu costumava perguntar-lhe por que isso, por que aquilo, e por que aquele outro, incessantemente, perguntas que ela respondia geralmente (assim como meus pais) ou com: "Porque sim", ou: "Você vai entender melhor quando você crescer, talvez." Como eu odiava
essa resposta. Mas agora, e embora me cause uma tristeza sem fim, mesmo depois de todos estes anos, finalmente tenho que admitir que a velha Byrd estava certa. Há algumas coisas que simplesmente tem que esperar até que tenhamos crescido – nós dois.
Gurdjieff diz (Em Busca do Milagroso, p. 147):
Um homem deve perceber que na verdade ele consiste de dois homens. E, enquanto uma pessoa cresce e se desenvolve normalmente, a outra pára na idade de seis ou sete, ou talvez dez ou onze anos, mas pára por aí, para nunca mais terminar. E enquanto nossa chamada educação atende à aprendizagem e ao desenvolvimento de uma, negligencia a outra, resultando em uma inevitável assimetria dentro da nossa pessoa, deixando-nos em uma posição lamentável, algo como um carrinho com rodas grandes nas na lateral direita e pequenas na esquerda. Esses infelizes não podem, como se diz: "ir a lugar nenhum rápido", sendo condenados, sem terem culpa, a seguir apenas em círculos intermináveis.”
De qualquer maneira, a segunda pergunta, "Por quê?", Flui naturalmente da primeira e refere-se especificamente às duas pessoas dentro de cada um de nós, e estabelece as bases para a compreensão de que forma tal significado oculto pode ser utilmente expressado, e, inversamente, e tão importante quanto, que forma deve ser evitada, quais as informações serão essenciais para nós na análise final.
Então, muito obrigado Sra. Byrd, onde quer que você esteja, pois, embora possa ter tomado mais tempo do que o esperado para este que voz fala superar esse desequilíbrio não natural, mas inevitável, e, finalmente, crescer, agora vejo que você também estava certa.
E, obviamente, a terceira questão, "Como?" é importante, porque se não pudermos saber como Gurdjieff escondeu o seu significado, então como podemos ter alguma esperança de descobri-lo? Essa questão, aliás, me lembra da minha professora da primeira série, sem dúvida a maior de todas elas, uma doce senhorinha de cabelos prateados com o nome de Sra. Bell.
Agora, eu nem sempre pensei a respeito da Sra. Bell como uma grande professora, na verdade, quando eu tinha seis anos, eu pensava que ela era muito cruel. É verdade - cruel. Mas como as coisas se mostraram, foi justamente ela quem ensinou a lição mais importante de todas - ou mesmo duas delas. Quando chegava a hora da leitura, sete ou oito de nós crianças arrumávamos algumas das cadeirinhas ao longo da parede em um círculo na frente da classe e, depois, nos sentávamos em nosso círculo de leitura e nos revezávamos, cada criança lia em voz alta talvez uma ou duas páginas da nossa pequena cartilha de primeiro grau. E como de praxe, geralmente tropeçávamos ocasionalmente em uma palavra, às vezes até chegar a uma parada total! - Conforme tentávamos descobrir o que significava a palavra ou como dizê-la, como, por exemplo, a palavra "mosca" na frase: "O cachorro tinha uma mosca em seu nariz."
Bem, quando a infeliz criança que estava na vez de ler chegava nessa frase e começava: "O cachorro tinha uma ...", e então parava, a sábia e sorridente velha senhora Bell "solicitamente" sugeriria: “elefante” - e não importava se a palavra era mosca, ou leão, ou cão ou gato, ou qualquer outra palavra que fosse, a sugestão mais "útil" da Sra. Bell seria sempre a mesma, "elefante", "elefante", “elefante”. Então, a criança inocente e confiante começava a ler novamente, mas dessa vez com um tom de maior confiança, para que todos ouvissem: "O cachorro tinha um elefante no seu nariz;” diante disso as outras crianças explodiam em gritos de deliciosos risos e gargalhadas de alta-frequência que preenchiam a sala com uma leveza incrível, mas também causava uma certa quantidade de embaraço para aquele que estava lendo. Agora você vê porque eu pensava que a senhora Bell era cruel.
Mas você sabe o quê? Não demorava muito antes que compreendêssemos, e, talvez, como tenha ocorrido em poucos lugares na face deste planeta, naquele momento, nós, meros alunos de seis anos de idade da primeira série, éramos ensinados de forma rápida e fácil uma lição que tem estado ausente dos mais instruídos de nossos ilustres médicos, filósofos e líderes religiosos, e que fugiu de algumas das maiores mentes do mundo, e a nós foi ensinada essa lição no prazo de poucas semanas, por nossa professora da primeira série!
Essa lição é um dos principais temas de Gurdjieff, que ele visita repetidamente em uma variedade de formas diferentes; ela é na verdade o foco de uma grande porção dos seus escritos. Mas se a pessoa não teve sorte de sentar na aula da primeira série da Sra. Bell e aprender essa lição aos seis anos de idade, então, infelizmente, provavelmente levará mais do que apenas algumas semanas, talvez até mesmo exigirá um grande volume de experiência pessoal para que a lição possa penetrar as décadas de acréscimos que cobriram nossas mentes nos anos que passaram.
Quanto a o quê essa lição pode ser, acho que é melhor deixar entre você e seu professor, o Sr. Gurdjieff. Mas vou dizer isto: é preciso "estar ciente" do aviso a respeito da mente Asiática, começando com a última frase na página 217 do Encontros com Homens Notáveis. Não deveríamos, devido à desatenção, nos permitir sermos mal orientados. E a segunda lição que a Sra. Bell nos ensinou foi, naturalmente, a capacidade rara e quase mágica de "fazer de uma mosca um elefante" que, de acordo com o altamente estimado Mullah Nassr Eddin, é uma habilidade essencial. É de fato tão essencial, que estaremos trabalhando para desenvolver essa capacidade um pouco aqui e um pouco ali, capítulo a capítulo, até que, eventualmente, desenvolvamos uma habilidade tão perfeita com essa capacidade que evocaremos inveja até mesmo ao Grande Chifrudo!
Então, obrigado Sra. Bell, você foi de fato uma professora maravilhosa e todos nós deveríamos ter sido assim abençoados. Como diz o Mullah:
'Nunca podemos saber quem poderá nos ajudar a sair das galochas.'
Agora, uma vez que a última pergunta depende da segunda para sua solução e a segunda questão nem sequer existe sem uma conclusão do primeira, então, por toda a lógica, seja linear ou holística (ou mesmo objetiva), é aí onde devemos começar, com a primeira pergunta, "Se há", e prosseguir logicamente (mais ou menos), e seguirmos
passo a passo até a última.


Se há?
Neste capítulo, vamos olhar para alguns exemplos específicos que abordam a questão básica - se há significados ocultos nos escritos de Gurdjieff, mas estes exemplos não são de modo algum aquilo que esperaríamos à primeira vista. Embora possa parecer inicialmente que a melhor maneira de confirmar a existência de significados ocultos é simplesmente localizar e identificar um ou dois deles, esse método não funcionará neste caso porque os significados estão escondidos dessa própria parte de nossa consciência que conduz tal pesquisa! Caso contrário, deveríamos todos termos encontrado o que buscamos, e há muito tempo, é claro.
Então, vamos ter que recorrer a outros meios, pelo menos inicialmente. Uma vez que tivermos respondido a essa pergunta (e o faremos), vamos explorar a forma como tais significados ocultos podem caber em uma estrutura em camadas bastante notável. Conhecer a estrutura que terá uma melhor chance de encontrar algo de valor real. Então, vamos acabar por
cobrindo uma traquinas poucos itens que parecem sempre "graça" nos com a sua "presença" lindo no início de qualquer consideração sobre este âmbito.
Começamos por rever alguns dos quais Gurdjieff tinha a dizer sobre o assunto de significados ocultos, e então veremos se algum de seus "antigos alunos" especialmente preparados podem ajudar.

O que permanece "oculto por trás das palavras?"
Em uma conversa com um aluno prospectivo que é encontrada no ensaio chamado
Vislumbres da Verdade
, que é incluído como o primeiro capítulo do livro, visões do mundo real, na página 18, Gurdjieff adverte:
Tente fixar seu interesse e sua atenção ... n
o que se esconde atrás das palavras, no conteúdo interior.
Que deveríamos estar à procura de algo "escondido por trás das palavras", que contém o “conteúdo interior", é a sua mensagem clara nesse caso.
Mas, alguns podem dizer, e poderia ser assim, sendo que a observação vem de uma simples conversa com uma única pessoa não é inteligete extrapolar Às conversas e escritos de Gurdjieff em geral.
Além disso, apesar de ser dito que o “Visões” (Gurdjieff fala aos seus alunos) é uma compilação de anotações feitas por alguns de seus alunos, ainda, uma vez que a autoria de vários capítulos não é mencionada, e os escritores, bem como a influência editorial, não são claramente identificados, esse livro, embora seja útil, não é tão confiável como algo de autores conhecidos ou do próprio Gurdjieff. No entanto, embora isso possa ser verdade em geral, este caso é uma espécie de exceção, pois o ensaio, Vislumbres da Verdade, foi usado por Gurdjieff como material de estudo com alguns de seus alunos, dessa forma conferindo a ele a aprovação pessoal de Gurdjieff - ou seja, se é representado com precisão. Quanto aos outros capítulos do livro, embora alguns deles sem dúvida conterem informações úteis, lembrando a advertência frequente de Gurdjieff de mantermos um espírito crítico, devemos estar cientes de que eles foram escritos por autores desconhecidos, inevitavelmente com diferentes graus de compreensão e clareza de memória e, portanto, com diferentes graus de precisão.
Uma vez que muitos sentem-se mais confortáveis com o que vem de autores conhecidos do que com autores anônimos, e com razão, então é isso que vamos usar para o restante deste capítulo. Há muitos outros exemplos semelhantes e declarações até mais fortes que não são tão limitados quanto ao tempo, pessoa ou circunstância, ou tão questionáveis em termos de autoria. Mas antes de deixarmos o comentário acima, há uma curiosa sutileza que pode ser observada a fim de ajudar a evitar um erro comum. Embora Gurdjieff tenha dito para procurarmos o significado oculto por trás das palavras, muitos tomam o seu comentário como significando que devemos procurar o sentido oculto dentro das palavras, como se Gurdjieff se referisse a algum significado mais profundo das próprias palavras. Mas isso não é assim. "Atrás" e "dentro" não são o mesmo e, como você vai descobrir, Gurdjieff foi bastante preciso em suas escolhas de palavras. Não é dentro das palavras, mas por trás das palavras, nas figuras e imagens que ele "pinta" com as palavras que os seus ensinamentos mais importantes são encontrados.
Agora, seguindo o nosso plano, ao invés de apresentar esse fragmento, será melhor em termos de organização olharmos as observações relacionadas de acordo com a fonte. Primeiro, vamos ver o que Gurdjieff tem a dizer sobre o significado oculto em suas próprias palavras e em seus próprios escritos, pois não há fonte mais confiável do que essa. Vamos usar os seus livros na ordem que ele sugeriu, e então, depois que tivermos sido bem preparados pelo mestre, vamos dar uma olhada para ver se algum de seus "antigos alunos" podem ajudar.

Dos Escritos de Gurdjieff

Relatos de Belzebu a Seu Neto

No início de Belzebu Gurdjieff solta uma dica sutil de que seu significado vai ser um pouco difícil de ver - que eles estarão "velados". Refiro-me ao terceiro parágrafo, e à nota de rodapé, na página 10, relativo ao Cheshma de Sheherazade.
Poderíamos pensar inicialmente que essa é uma dica bastante leve, porém, em vista do fato de que dentro de todo o livro de 1238 páginas, há apenas três notas do tipo, e percebendo que dar-lhes a forma de notas de rodapé assegura que elas serão observadas, a sua importância começa a assumir um maior significado e, como veremos em um capítulo posterior, a nota de rodapé relacionada com o gás "Zilnotrago" desempenha um papel essencial em uma das preparações mais inteligente de Gurdjieff.
Mas, por agora, vamos recorrer a uma forma mais concreta de provas para a existência de significado oculto, algo como se diz, "Direto da boca do cavalo." Pulando para o último capítulo, intitulado "Do Autor", na página 1189 Gurdjieff refere-se a: ... o pensamento oculto apresentado pelo próprio Sr. Belzebu em seu, por assim dizer, acorde conclusivo" ...
Esta menção de um “pensamento oculto” em algum lugar dentro da acorde conclusivo de Belzebu vem até nós, aparentemente, só depois que já passamos (e perdemos) esse pensamento oculto, e Gurdjieff parece estar nos desafiando a voltar e encontrá-lo. E eu fiz exatamente isso, eu tentei, como eu espero que você tenha feito - voltei e li a última seção relacionada com Belzebu, e eu até mesmo reli várias vezes procurando esse pensamento oculto, mas mesmo com todos os meus esforços eu não encontrei nada conclusivo. Na verdade, eu não encontrei absolutamente nada – pelo menos por um longo tempo, eu pensava não ter encontrado.
Bem, isso é porque, como eu descobri mais tarde, a informação necessária para finalmente compreender esse pensamento oculto é encontrada em dois lugares – no Relatos de Belzebu a seu neto, e em outro dos livros de Gurdjieff, o livro que é, “por assim dizer, seu acorde conclusivo”. A partir disso você pode começar a perceber que a viagem que faremos na direção de uma compreensão pessoal dos escritos de Gurdjieff será “divertida" ao extremo, então você pode também trazer o seu senso de humor e divertir-se com as piadinhas e truques de Gurdjieff ao longo do caminho.
Se você é um estudioso de longa data dos escritos de Gurdjieff você já deve ter notado o uso freqüente do pretérito para as informações essenciais, tais como "foi introduzido," como mencionado anteriormente," e assim por diante, e se você é relativamente novo aos seus escritos, então, você pode se acostumar com o fato de que embora Gurdjieff quase sempre nos alerte para tal material escondido, na maioria das vezes ele nos alerta de formas sutis, facilmente ignoradas e às vezes até depois do fato, ou seja, depois que já passamos o ponto de seu texto em que realmente precisávamos da informação e poderíamos aplicá-la. E às vezes, como neste caso, as pistas necessárias para resolver o mistério são apresentadas muito mais tarde, não apenas em capítulos posteriores, mas mesmo em livros posteriores! Voltando à nossa presente tarefa - se as informações necessárias para a solução desse pensamento oculto ainda não foi apresentada, então, qual é o propósito de Gurdjieff ao mencioná-la aqui, e de maneira (quase) tão clara ? Isso não é típico dele, ele raramente da dicas tão descaradamente. Mas aqui isso serve a vários propósitos. Por um lado, serve para colocar o estudante alerta em guarda para a possibilidade de outros significados ocultos em seus escritos. E, uma vez que estivermos atentos a essa possibilidade, a nossa tarefa árdua, embora não esteja nem metade feita, ou mesmo um quarto, pelo menos começou, e podemos começar a obter mais de nossos esforços. Mais importante que serve como um colocar “as mãos à obra” - ele está desafiando-nos a resolver o mistério - qual é o “pensamento oculto” de Belzebu? "A resposta para isso é de tamanha importância em termos de uma outra questão que merece uma atenção especial para si, e por isso vamos voltar para o desafio do pensamento escondido de Belzebu junto com sua solução em um capítulo seguinte dedicado quase que exclusivamente a esse enigma.
Mas o ponto principal para o nosso presente capítulo é que a sua observação no último capítulo de Relatos de Belzebu a Seu Neto confirma a presença de pelo menos um pensamento oculto dentro de seus escritos e, como você logo verá, isso é apenas a preparação do cenário.

Encontros
No Encontros com Homens Notáveis, na página seis, Gurdjieff diz: “eu considerava impossível privar o leitor quer do que havia sido dito sobre este assunto ou de todos os outros pensamentos, por assim dizer, engenhosamente embutidos nessa passagem, pensamentos que, para alguém capaz de decifrá-los, podem ser um material extremamente valioso para a compreensão correta do que tenho a intenção de elucidar nas duas últimas séries de forma acessível a qualquer homem que procura a verdade.”
Aqui, perto do início do Encontros, recebemos um alerta de pensamentos "engenhosamente embutidos" que estão logo por vir, e, é importante notar, esses pensamentos estarão disponíveis apenas para aqueles que são "capazes de decifrá-los.” Como esses pensamentos podem ser embutidos, os métodos e técnicas de tal ocultação, e como nós devemos ser capazes de decifrá-los, mais uma vez ele não diz - pelo menos não ainda, e certamente não nessa passagem.
Muitos leitores, no entanto, fazendo nessa passagem uma leitura passiva, subestimam o que está sendo dito, pensando que significa que o que Gurdjieff escreveu é ou deveria ser considerado "acessível a qualquer homem" que assim o desejar, ou a qualquer fanfarrão que se imagina um buscador da verdade. Mas esse não é o caso. Após uma leitura atenta e ativa dessa passagem encontramos implícita (e até explícita) em sua mensagem a exigência de que devemos descobrir e reconhecer os pensamentos habilmente embutidos e, obviamente, temos de ser ou tornarmos-nos "capazes de decifrá-los." Então, e só então, os pensamentos "artisticamente embutidos" de Gurdjieff se tornarão acessíveis a qualquer homem em busca da verdade. Na página seguinte, somos novamente notificados a respeito da dissimulação (ocultação), mas desta vez ele deixa claro que esta prática não se aplica apenas a uma ou duas páginas, ou a uma seção isolada ou até mesmo a um capítulo especial ou um livro, mas se tornou uma característica bem desenvolvida que se aplica de maneira geral a todos os seus escritos em. E aqui ele nos dá a primeira ligeira dica de seu 'método' (Encontros com Homens Notáveis, p. 7):
Mas desde que, pouco a pouco, tornei-me mais hábil na arte de esconder pensamentos sérios em uma forma exterior atraente e facilmente compreendida ...
Nesse comentário, ele nos adverte que, embora a forma exterior pode parecer fácil, o "pensamentos mais sérios" são "escondidos" dentro dessa forma exterior. Ele também sugere que há mais do que apenas alguns significados ocultos, que esconder seus pensamentos mais sériose tornou-se regra geral e sua prática.
Aliás, você pode querer lembrar da palavra "atraente", como acabaremos por ver que ela desempenha um papel importante em um dos mais "contundentes" piadas de Gurdjieff.
Relacionado ao seu método de ocultação, mais tarde no Encontros com Homens Notáveis, na página 231, ele começa a nos preparar a considerar uma "nova" (antigo) linguagem, dizendo-nos sobre uma escola de escrita, um estilo que ele aprendeu em sua juventude , e que ele chama por um nome um tanto enigmático:
Por isso, quero descrever esta parte de nossa viagem a esse país, então inacessível aos europeus, em tantos detalhes quanto possível e descrevê-la mais ou menos no estilo de uma escola literária, que por ventura eu estudei na minha juventude e que surgiu e floresceu, ao que parece, justamente ali às margens deste grande rio, um estilo chamado de "criação de imagens sem palavras."
O que ele quer dizer com "a criação de imagens sem palavras"? Bem, como pode ser esperado até agora, ele não vai nos dizer, ao invés disso ele vai mostrar o que isso significa por meio de diversas demonstrações e exemplos, alguns dos quais nós cobriremos conforme avançamos através deste livro ao aproximarmos da linguagem das formas. Mas por ora vamos manter a nossa busca por suas indicações complementares, em suas próprias palavras, da existência de significados ocultos nos seus escritos.

A vida só é real
Na vida só é real quando "eu sou", o último livro de Gurdjieff, na página 69 ele novamente nos faz notar que seus escritos não devem ser tomados como diretos:
... Quero, desde o início desta série, falar também de tais fatos externos, cuja descrição para um leitor ingênuo poderia parecer à primeira vista, quase uma mera sucessão de palavras sem sentido; enquanto que para um homem que tem o hábito de pensar e de buscar o sentido contido nas chamadas "exposições alegóricas", com tanto que haja pensamento um pouco reforçado, estariam cheio de significado interior, e, se ele fizer o menor esforço "para não ser um fantoche do seu reflexo automático", ele vai compreender e aprender muito. Aqui ele diz claramente que seus escritos não são óbvios. Somos alertados para o fato de que o que poderia parecer à primeira vista ser "uma simples sucessão de palavras sem sentido" pode de fato ser bastante significativo, mas isso é apenas sob a condição de pensamento "reforçado", adquirido pela nossa luta anterior com seus significados em Relatos de Belzebu a seu neto e Encontros com Homens Notáveis, e também com a condição de fazermos um esforço para superar nosso “reflexo automático". Esse trecho é do início do livro, onde ele ainda prepara o estudante alerta para que a nova linguagem que buscamos aprender. Pois, nesta passagem, se estamos atentos aos detalhes, vemos algo anormal - algo parece estar errado: por que ele usa o termo "assim chamadas” como um modificador de "exposições alegórica"? Esta observação sobre as "assim chamado exposições alegóricas" é bastante intrigante porque é evidente para qualquer estudante sério dos escritos de Gurdjieff, que ele faz uso freqüente de alegoria, e ele diz muitas vezes. Por que, então, neste caso, ele indica que poderia ser apenas "assim chamada” (suposta) alegoria? Na verdade, vamos descobrir que ele usa tanto alegoria quanto algo similar, mas que vai muito além da alegoria, daí o uso do "assim chamada" nessa afirmação. Como veremos mais tarde, suas "assim chamadas exposições alegóricas" são nada mais nada menos do que uma antiga forma de ensinamento que ele chama de "inculcação ilustrativo", um método de atuação de uma lição, e através do qual Gurdjieff, usando a versão móvel da sua linguagem figurativa, transmite uma grande parte de sua instrução mais significativa.
Mais tarde, no mesmo livro, ele nos apresenta a este método de maneira leve; mas a sua introdução inicial, servirá apenas para nos deixar confusos o suficiente para perguntar: "O que foi que eu acabei de ler?" - pensamento que deve ser mais do que um pouco familiar para qualquer estudante sério de sua literatura. E acabaremos por descobrir e talvez até mesmo chegaremos a entender esse método, mas uma vez que a " inculcação ilustrativa" é como o vizinho da casa ao lado da linguagem das formas, e sendo que não queremos colocar a carroça afrente dos bois, vamos guardar isso para um momento e lugar mais adequados. Neste momento ainda estamos principalmente interessados com a indicação de significados ocultos dentro de seus escritos.
Até agora, então, do
Vislumbres da Verdade, temos a referência "o que está escondido por trás das palavras" e "o conteúdo interno." Então, no Relatos de Belzebu a seu neto temos "o pensamento oculto apresentado pelo Sr. Beelzebub," no Encontros com Homens Notáveis somos informados do "material valioso" que está "engenhosamente embutido", e somos informados da crescente habilidade de Gurdjieff em "esconder pensamentos sérios em uma forma exterior atraente e facilmente compreendida." Por último, da vida só é real, temos as "assim chamadas exposições alegóricas" e a "significação interior”.
E esses são apenas alguns dos exemplos encontrados nos escritos de Gurdjieff, nos quais ele confirma a existência de significados ocultos e fortemente incita que devemos encontrar e aprender a decifrá-los. Além disso, descobrimos que ele confirmou a presença de pensamentos ocultos não apenas em seus escritos, mas mesmo em sua fala comum (como se tal coisa poderia ser dito a respeito de Gurdjieff), nas observações casuais e conversas com seus alunos.


Dos assistentes de Gurdjieff: Nott, Orage, Bennett e Pinder

C. S. "Patriarca" Nott
Charles Stanley Nott foi um aluno de longa data de Gurdjieff, inicialmente através do seu bom amigo A.R. Orage, e depois com Gurdjieff diretamente no Prieuré (O Instituto), bem como muito tempo depois.
Depois de suportar e superar incríveis dificuldades físicas e emocionais, e realizando uma tarefa quase impossível, como reconhecimento de seu feito foram dadas a Nott três garrafas de Armagnac por Gurdjieff, o qual também organizou um piquenique a ser realizado em sua honra (
Teachings of Gurdjieff, p. 222) Gurdjieff disse:
“Agora, eu lhe darei amanhã três garrafas de Armagnac. O doutor (Stjoernval) fará um salada Prieure especial, e leve todos os homens e faça uma festa na sua fonte.” E em mais um reconhecimento do feito de Nott no trabalho sobre si mesmo, Gurdjieff conferiu a este “aluno antigo” especial o título de"Patriarca".
“Você fez uma boa tarefa no Prieuré. Agora você não será apenas Nott, mas Patriarca Nott, e você terá um novo nome no Prieure que será seu eternamente.”
Patriarca Nott escreveu dois livros, Ensinamentos de Gurdjieff (contendo o livreto de Orage, comentário sobre Belzebu) e Viagem através Deste Mundo. Para o estudante sério de idéias de Gurdjieff, os dois livros de Nott são essenciais.
Entre as muitas contribuições do Patriarca Nott, algumas são surpreendentes e, obviamente, de grande importância, tais como o ensinamento de Gurdjieff referente a termos apenas "um lugar" para a experiência consciente, ao qual voltaremos em um capítulo posterior. Outras idéias, porém, apesar de tão importantes quanto essa, nos são colocadas pelo Patriarca Nott de uma maneira muito mais sutil. Por exemplo, ele relata, quase como se "de passagem", que para um aluno novo no Prieure Gurdjieff fez a seguinte observação um pouco estranha:
"Nunca acredite em nada que você me ouvir dizer. Aprenda a discernir entre o que deve ser tomado literalmente e o que deve ser considerado metaforicamente. "(Ensinamentos, p. 75)
Não devemos acreditar em Gurdjieff? Que idéia! Por outro lado, talvez o que ele esteja realmente dizendo é que não devemos acreditar naquilo que nós inicialmente pensarmos que ele está dizendo, ou o que ele parece, à primeira vista, estar dizendo. De maneira bastante forte, implícito em seu discurso acima e em muitos outros comentários semelhantes, está o conselho que não devemos tomar sua palavras ao pé da letra - que muitas vezes o seu discurso é metafórico. Gurdjieff não era um homem simples e nem ele e nem o significado de seus escritos devem ser tomados por garantido. Os segredos esotéricos de todos os tempos não serão tão descaradamente declarados como desejaríamos. É preciso aprender, como ele avisou, a "decifrar" (veja abaixo) o seu significado.
Pelo que temos visto até agora sabemos que há diversas maneiras que qualquer observação pode ser entendida. Algumas podem ter a intensão do sentido literal, mas Gurdjieff disse que outras devem ser entendidas como alegoria ou metáfora (Para uma descrição sucinta e simplificada de alegoria e metáfora veja a última seção deste capítulo).
Agora, antes de irmos adiante, há a questão geral de uma complexidade crescente que eu gostaria de abordar brevemente. Esse negócio de significado oculto do Gurdjieff pode soar um pouco complicado, e tendo em conta alguns dos itens que serão abordados mais adiante neste capítulo e, mais tarde neste livro, as questões por algum tempo ficarão ainda mais complexas.


Mas antes de você se desesperar a esse respeito, deixe-me assegurá-lo que - toda a aparente complexidade nada mais é do que fachada, como Gurdjieff pretendia que fosse. A chave dos significados ocultos de Gurdjieff é realmente muito simples - ou, eventualmente se tornará simples. Na página 77 do seu segundo livro, Viagem Por Este Mundo, Patriarca Nott relata que Gurdjieff lhe disse uma vez:
“Muitos que nunca irão me encontrar, pessoas simples, entenderão o meu livro.”
Como poderia Gurdjieff de maneira realista esperar que "pessoas simples" entenderiam seus escritos, salvo se, em essência, seus escritos também fossem simples? O ensinamento de Gurdjieff é tanto simples quanto poderoso. O caso é apenas que geralmente somos muito desequilibrados (unilaterais), com uma mente muito literal e ingênuos, e nós ainda não entendemos essa linguagem especial com a qual ele transmite suas instruções mais importantes. Entretanto, uma vez que essa linguagem é entendida, as coisas começam a ir muito melhor. Mas, por ora, temos de olhar para alguns itens referentes à nossa presente tarefa de confirmar a presença de significados ocultos nos escritos de Gurdjieff, e agora vamos também começar a procurar alguma semelhança de estrutura nesse mistério.

A. Orage R.
A.R. Orage foi outro dos “alunos antigos” de Gurdjieff, e foi escolhido por Gurdjieff para ser o tradutor-chefe para colocar o Relatos de Belzebu a seu neto e o Encontros com Homens Notáveis no idioma Inglês.
Seu livro, Comentário sobre Belzebu, contém informações úteis e necessárias em nossa busca por significados ocultos e, como mencionado anteriormente, está incluído e, diga-se de passagem, por um longo tempo esteve disponível apenas no livro do Patriarca Nott, Ensinamentos de Gurdjieff. Orage escreveu: O livro (Belzebu) é a única exemplificação de uma obra codificada acessível a nós ... (Ensinamentos, p. 194)
Primeiramente, essa simples observação, vinda do tradutor chefe de Gurdjieff e também um dos “aluno antigos” de Gurdjieff, o qual ele especificamente identificou como: “um dos meus assistentes a mais importantes”, (A vida só é real, p. 155), é suficiente para confirmar a natureza codificada do Legominismo de Gurdjieff.
Mas, “codificada” faz parecer muito mais complicado do que realmente é. Pois, embora seja codificada, não é como algo de Bletchley Park como a famosa quebra do código britânico, mas sim, um código muito simples. Afinal, Gurdjieff trabalhou duro na escrita de seu Legominismo (seus livros), e uma vez que ele recebeu pouco ou nenhum lucro dos livros (que não foram nem mesmo devidamente publicados durante sua vida), é razoável supor que eles foram escritos principalmente para nós, as gerações futuras. Mas o que há de bom nisso se nunca compreendermos seu significado oculto? É claro que ele tinha a intensão que deveríamos finalmente quebrar o código. E sobre esse código, a chave para esse código, em seu Comentário (Ensinamentos, p. 194), Sr. Orage diz: “Relatos de Belzebu é uma espécie de Bíblia, as anomalias que nos parecem incongruentes e absurdas podem ser um texto dentro de um texto que, quando desenterrado, pode incluir um alfabeto da doutrina. “
De acordo com Gurdjieff, a chave para o Legominismo e a chave das inexatidões estão nas nossas mãos, a última para ser descoberta pela intuição.
Para combinar e resumir as observações acima de Orage, Os Relatos de Belzebu a seu neto é um trabalho codificado, e a chave para seu significado oculto é a nossa cognição intuitiva das anomalias e incongruências ali contidas. Em seus escritos Gurdjieff frequentemente nomeia essas coisas com o termo que soa bastante técnico "inexatidões conforme as leis”, mas "anomalias", e coisas “incongruente e absurdas", cairiam muito bem também, e o próprio Gurdjieff usou tais descrições. Afinal, um nariz enorme no rosto pequenino (inexato conforme a lei em proporção), ou um par de orelhas nas nádegas de um homem (inexato em posição), certamente vão nos atingir como anormal, incongruente, absurdamente bem humorado. Orage vai ainda mais longe ao dizer que os Relatos de Belzebu a seu neto é "uma espécie de Bíblia." Bem, talvez isso seja exagerar o assunto, mas, novamente, talvez não. Seria sensato segurar o julgamento sobre isso por enquanto. No entanto, eventualmente, o aluno objetivo e pensativo vai querer considerar tanto a observação quanto sua conversa. Em qualquer caso, a frase, "uma espécie de Bíblia", relata bem essa afirmação de Gurdjieff: “Existem duas correntes de conhecimento na Bíblia - uma para aqueles com compreensão, e outra para aqueles que tomam as coisas literalmente ...” (Journey, p 84.)
Se você analisar e refletir sobre essa observação você vai perceber que é uma afirmação muito forte. E vindo de Gurdjieff que refere-se a seus escritos como contendo significados ocultos, alegoria e metáfora e nossa necessidade de sermos "capazes de decifrar" o seu significado, uma coisa está clara ou por agora deveria estar bem clara - aqueles que tomam Gurdjieff literalmente não têm compreensão de seu ensinamento. Ele já nos avisou, ele nos advertiu, ele nos deu alternativas, e descreveu aqueles que tem a mente literal como sendo sem compreensão. Só isso já deveria ser suficiente para convencer-nos a olhar para seus significados ocultos. Para aqueles que têm ouvidos que escutem, é o suficiente. Mas os escritos de Gurdjieff não são tão simples como a Bíblia. Enquanto a Bíblia tem apenas duas correntes de conhecimento, descobrimos que os escritos de Gurdjieff têm três. Novamente, do Comentário de Orage no livro de Nott, p.136:
Devemos sempre ter em mente que Gurdjieff diz sobre o Relatos de Belzebu: Há três "versões" do livro - uma exterior, uma interior e um íntima: além disso, cada declaração completa do livro tem sete aspectos.”Essa informação é tão importante que na página 178, ele repete o pensamento em palavras diferentes (uma técnica aprendida de Gurdjieff) e ele até mesmo nos diz para lembrar (outro ponto do método de Gurdjieff):
Lembre-se que tudo no Relatos de Belzebu tem três significados e sete aspectos.” Poderíamos estar interessados, a propósito, em ver como Gurdjieff transmite essa idéia de "sete aspectos" dentro de suas histórias. Remeto o leitor ao Relatos de Belzebu a seu neto, páginas 32-33, a história de Gurdjieff perdendo um dente da sabedoria (do siso) - com ênfase na palavra "sabedoria": “o dente tinha sete raízes, cada uma das quais continha uma gota de sangue em cima, através de cada uma dessas gotas transparecia um dos sete aspectos da manifestação do raio branco." Isso é um pouco mais difícil do que Inglês direto de Orage, mas é interessante e informativo no que diz respeito ao que estamos buscando. E, embora a observação Orage sobre as três versões direcione-se para o Relatos de Belzebu a seu neto, como você verá, essa mesma estrutura, naturalmente, aplica-se aos escritos de Gurdjieff em geral - a única exceção possível é o arauto do Bem que Virá.
John G. Bennett
Agora, a partir do que vimos acima, sabemos que Gurdjieff disse que há três versões do Relatos de Belzebu, mas, naturalmente, ele não disse de que essas três versões consistem ou que forma elas poderiam assumir. Outro dos alunos próximos e bem conhecido de Gurdjieff, John Bennett, tem a dizer sobre o assunto o seguinte:
É quase impossível dizer sem estudo muito profundo e persistente o que é para ser tomado literalmente, alegoricamente e sob a forma de um simbolismo especial.” (Existe vida na Terra, p. 113).
De acordo com Bennett, então, as três formas que qualquer passagem pode estar destinada são: literal, alegórica e sob a forma de um simbolismo especial. Baseado no comentário de Bennett e as observações anteriores de Gurdjieff, em especial aquela sobre as três versões, podemos começar a suspeitar que a estrutura dos seus escritos se assemelha a algo próximo ao seguinte: uma suposta versão literal externa com seus significados veiculados através da linguagem das palavras, uma versão interna de metáfora e alegoria, e sua versão final, mais íntima, escrita sob a forma que Bennet chama de "um simbolismo especial", que Gurdjieff referiu como a linguagem que nós "não conhecemos ainda."
Como mais tarde confirmaremos, este esboço inicial bruto é muito próximo da verdade.
No comentário acima, os dois primeiros temos de Bennett - "literal" e "alegórico", já foram encontrados e nas próprias palavras de Gurdjieff, então não há surpresas nesse ponto. O que é novo para nós é o termo, “simbolismo especial ". O que significa isso?

Frank Pinder
Colocada de maneira mais simples é a descrição de outro dos "antigos alunos” de Gurdjieff, que foi seu primeiro aluno Inglês e que, por algum tempo, serviu de braço direito de Gurdjieff, Frank Pinder. Sua expressão para isso é menos abstrata, mais descritiva e, portanto, carrega informação mais útil. As contribuições de Frank Pinder em geral (e esta observação, em particular) são somente encontradas nos livros do Sr. Nott.
Sr. Pinder disse:
“Gurdjieff falava e escrevia em um discurso de formas figuradas (picture-form), linguagem simbólica, que é necessária para compreensão, porque as palavras ... (Ensinamentos, p. 228)
Essa descrição "de forma figurada" é mais fácil de usar. E embora Pinder use a expressão "linguagem simbólica", que é similar ao “simbolismo especial" de Bennett , é essa "forma-figurada” mais descritiva de Pinder que vamos descobrir ser mais produtiva. Você deve ter notado que eu cortei a frase do Sr. Pinder pela metade, bem quando ele estava prestes a dar a sua opinião a respeito de porque as palavras são insuficientes. Bem, e assim eu fiz e peço perdão ao Sr. Pinder por isso, mas eu cortei sua explicação porque eu acho que Gurdjieff faz essa tarefa melhor, e vamos chegar a sua explicação sobre a inadequação das palavras em um capítulo posterior.
Ainda assim, você deveria ler a observação completa de Pinder no texto original, juntamente com suas outras contribuições substanciais, muitas das quais estão além do escopo deste livro, mas que lançam luz sobre o ensinamento de Gurdjieff. E o quão importante podem ser essas contribuições? Você deve decidir isso por si mesmo. Pergunte a si mesmo: que tipo de informação poderia o braço direito de Gurdjieff ter tido acesso?

Uma estrutura em camadas
Para expandir ligeiramente a respeito da estrutura aproximada das três versões mencionadas acima, vamos substituir o “forma-figurada” mais descritivo de Pinder pelo “simbolismo especial” de Bennett. E para desenvolver mais a descrição de Bennett, veremos que todas as três versões - a literal, a
alegórica, e de forma-figurada, estão, às vezes, simultaneamente em uma estrutura em camadas, com a versão exterior de palavras contendo a versão mais sutil interior da metáfora e alegoria, e essa própria versão interna, muitas vezes contém a versão mais íntima ainda mais sutil, expressada na forma de ícone, ou outra forma-figurada de linguagem.
Em outras palavras, em vez de uma passagem pretender ser como literal ou metafórica, ou como um simbolismo especial, podemos às vezes encontrar passagens compostas por todas as três. Além disso, como começaremos a ver em nosso capítulo Algumas ferramentas e técnicas, as coisas não são sempre como parecem, e cada versão – cada camada, tem um significado próprio que pode ser totalmente independente, ou seja, não relacionado, e até mesmo consideravelmente diferente, do significado de qualquer outra camada.
Outra maneira de olhar para isso é que as três as versões são apresentadas de uma forma em camadas que se interpenetram, similar à descrição dos três corpos. Assim como o corpo planetário do homem é dito conter o corpo Astral ou Kesdjan mais fino (se houver) que contém em si o corpo esseral superior mais fino ainda, também a versão exterior de palavras contém a versão interior mais sutil interior das alegorias e metáforas, que contém em si a versão ainda mais sutil íntima da forma-figurada de linguagem e inculcação ilustrativa. Aliás, o uso de "simbólico" ou "simbolismo" ou termos similares para descrever o método de Gurdjieff é encontrado no vocabulário de muitos de seus mais confiáveis alunos diretos, o que nos faz pensar que Gurdjieff insistiu nisso .

Resumo inicial
Agora, vamos resumir o que temos até agora e, em seguida, para mantermos o foco, vamos esclarecer algumas questões relacionadas que podem inadvertidamente terem surgido.
Em primeiro lugar, o tema principal deste capítulo é a questão do "se há” significados ocultos nos escritos de Gurdjieff.
Se você tiver qualquer dúvida restante ou algo diferente de uma posição forte e clara sobre essa questão, então talvez você vai se beneficiar ao revisar os exemplos anteriormente abordados - mas desta vez nas fontes originais. Lá você vai confirmar a existência de repetidas declarações inequívocas de Gurdjieff, assim como de vários alunos próximos que se reportam a essa questão, e sua resposta a essa pergunta deveria ser clara. O fato de existirem "três versões", ou métodos de apresentação, também deveria estar claro e levando em conta a forte advertência ou aviso de Gurdjieff de que aqueles que tomam as coisas literalmente são sem compreensão, deveríamos agora saber, e sem dúvida persistente, que devemos aprender a "decifrar" seus escritos.
Por último, dos quatro dos mais fortes dos alunos de Gurdjieff de primeira geração, Orage, Bennett, Pinder, e Nott, vimos que suas obras são "codificadas", escritas, pelo menos parcialmente, em uma "linguagem simbólica", linguagem na qual Gurdjieff na maioria das vezes falava e escrevia; uma línguagem - "forma-figurativa”.
Mas tudo isso é uma quantidade incrível de informação para digerir, no decurso de um breve capítulo, e muito desse material é provavelmente novo para muitos leitores. Então, o quão importante é tudo isso, e qual é o seu significado para cada um de nós pessoalmente? Acho que vou deixar o Sr. Nott responder a essas perguntas, no próximo trecho a seguir. Ele tem o dom de trazer as coisas para a perspectiva adequada, mas sempre de uma maneira suave e discreta.

Exílio
Para aqueles que são incapazes de aprender com as muitas advertências de Gurdjieff, a lição de não considerá-lo de maneira literal, há uma pena - um pouco áspera. Durante a época do Prieure essa penalidade tomava a forma de exílio. Isso é retransmitido para nós por Nott, verificado por Orage e outros, dos acontecimentos encenados no seguinte drama silencioso:
O cenário é o Prieuré. A época
, algum momento após o acidente de automóvel de Gurdjieff quando ele estava começando a se recuperar e a vida no Prieuré começava lentamente a voltar ao normal.
Ensinamentos de Gurdjieff
, página 83, o Sr. Nott:
“Começávamos a entrar em nosso passo novamente e a olhar para o novo futuro, quando o trabalho seria organizado à maneira antiga.
Mas uma manhã percorreu o aviso de que Gurdjieff queria que todos, sem exceção, se reunissem no Study House. Ele estava em sua poltrona no centro do salão. Nos agrupamos em volta dele, sentados no chão e esperamos. Com uma voz calma ele começou a falar, às vezes em Inglês, à vezes, em Russo. Ele disse que agora todos os trabalhos no Prieure tinham chegado ao fim. Ele iria liquidar o Prieuré. "Em dois dias," ele continuou, "todos devem ter partido daqui, só ficará o meu próprio pessoal. Durante muito tempo eu vivi para os outros, agora vou começar a viver para mim. Tudo agora pára - as danças, a música, o trabalho. Vocês todos devem ir em dois dias."
Enquanto ele falava nossas caras cresceram tanto que se poderia pensar que iriam tocar nosso peito. Depois de alguma conversa em russo ele fez um gesto com a mão, e lentamente nos levantamos e fomos para fora, em grupos no gramado e nos perguntando uns aos outros o que isso significava.
Foi um choque, como tinha a intensão de ser. Não fizemos mais trabalhos naquele dia, mas falamos entre nós, tentando descobrir se alguém entendia o que estava acontecendo. 'É isso', nos perguntamos, 'o fim de todas as esperanças que foram colocadas em nós? Tudo realmente chegou ao fim? O trabalho dele realmente terminou? "Todos ficaram mistificado, os alunos antigos bem como os jovens. "Por que isso?" Perguntavam alguns dos russos para mim. "O que fazer? Nós abandonamos tudo, viemos aqui, e está tudo acabado. O que fazer? "Eles pareciam personagens de uma peça de Tchekhov. Eu sabia tanto pouco quanto eles. No dia seguinte, a maioria dos russos, alguns dos americanos e os outros, arrumaram as malas e partiram, para nunca mais voltar para o Prieuré. Eles o tomaram de maneira literal. Algumas das Inglesas se foram, mas voltaram mais tarde. O resto de nós também partiu. Fomos a Paris e ficamos num pequeno Hotel capenga em Montparnasse. Mas antes de sairmos tivemos uma conversa com a Sra. de Hartmann, com o resultado que Gurdjieff disse que os americanos poderiam retornar após alguns dias e ficar, também aqueles 'próximos' a ele poderiam voltar. Na verdade, todos, exceto a sua família e aqueles que estavam cuidando dele, partiram por alguns dias. Quando voltamos para Fontainebleau o Prieuré parecia vazio. Sobrou apenas um terço de nós, incluindo os antigos alunos, aqueles mais próximos de Gurdjieff. O trabalho foi retomado nos jardins e na floresta, e todas as noites Hartmann tocava música para nós no Study House ...” Agora vamos vemos o que se entende por "exílio". o livro de Nott contém exemplo após exemplo de Gurdjieff dizendo e mostrando aos seus alunos que eles não deveriam tomá-lo de maneira literal. Mais e mais, ele reitera essa lição aos alunos diferentes, grupos diferentes de alunos, de diferentes formas e configurações. Mas um professor só pode oferecer a lição, ele não pode obrigar o aluno a aprender. Em última instância, isso cabe ao aluno. O pequeno drama acima, que para alguns arrebatador, foi muito parecido como um exame final – chamado de "prático". Foi um teste para saber se o aluno tinha, afinal, aprendido com sucesso uma das lições mais básicas de Gurdjieff, mais importantes e mais repetida. E, embora no início desta seção eu disse que a penalidade por falta de aprender esta lição era o exílio, agora vemos que era um auto-exílio.
Aqueles que o tomaram literalmente, partiram para nunca mais voltar. Mas aqueles que não acreditam nele, que duvidaram de sua mensagem, aqueles que absolutamente se recusaram a assumir as suas palavras pelo significado aparente e procuraram pelo significado e perguntaram foram autorizados a continuar. E assim é hoje. Aqueles que não conseguem aprender o 'método' de comunicação de Gurdjieff, aqueles que, apesar das várias advertências e demonstrações contrárias dele, insistem em considerá-lo literalmente serão auto-banidos para a versão externa do seu Legominismo, para nunca mais ouvir sua instrução verdadeira, nunca mais perceber o seu ensinamento. Uma penalidade severa, talvez, mas uma que damos a nós mesmos e é uma pena que pode ser evitada pelo simples recurso - "questione tudo, até você mesmo"
E assim, depois desse drama um pouco sombrio, que deixou um total de dois terços dos alunos de Gurdjieff vagando longe do Prieure num desapontamento confuso do auto-exílio, nós, por outro lado, ficaremos com o Sr. Gurdjieff e continuar nossa busca pelos seus significados escondidos.


Simplicidade
Agora, em tudo o que segue neste livro e em sua busca pelas verdades contidas nos escritos de Gurdjieff há uma observação importante que já abordamos anteriormente e que nos ajudará a nos manter no caminho. Certa vez o Sr. Nott perguntou para Gurdjieff: "E as pessoas que nunca conheceram, ou nunca conhecerão o Senhor?
Como elas serão capazes de compreender o Relatos de Belzebu?” Gurdjieff respondeu: "Talvez compreenderão melhor do que muitos que estão sempre ao meu redor. Você, por exemplo, vê muito de mim e se identifica comigo. Eu não quero as pessoas identificadas comigo, quero elas identificadas com as minhas idéias. Muitos que nunca vão me encontrar, pessoas simples, vão entender meu livro. (Viagem, p. 77)
Tal observação diz que você, como uma pessoa que nunca conheceu Gurdjieff, talvez terá uma vantagem considerável sobre alguns daqueles que foram seus discípulos diretos! Como isso é possível? Por um lado, como Gurdjieff indicou no Arauto do Bem que Virá, livro que vamos cobrir mais tarde em detalhes, a força de sua personalidade e de seu ser era simplesmente esmagadora demais para a maioria de seus alunos serem ou se manterem- objetivos, ou manter a iniciativa pessoal que é exigida daqueles que seguem o Quarto Caminho, e que Gurdjieff especialmente necessitava por parte de seus alunos. Aqui ele está explicando um dos vários motivos para a decisão de colocar os seus ensinamentos em forma escrita:
Em segundo lugar, tendo em vista - neutralizar as manifestações nas pessoas com quem eu entrava em contato, aquele traço inerente que, embutido como está na psique das pessoas e agindo como um impedimento para a realização das minhas metas, e que evoca neles, quando confrontados com outras pessoas mais ou menos proeminentes, o funcionamento do sentimento de escravidão, paralisando de imediato e para sempre a capacidade deles de demonstrarem a iniciativa pessoal da qual eu então tinha uma necessidade particular”. (Arauto, p. 12)
Às vezes, um pouco de distância pode ser uma coisa boa. Com o tempo e a distância, e com a ajuda adicional fornecida por Gurdjieff, através de três de seus "antigos alunos" preparados pessoalmente, vem uma vantagem considerável.
Além disso, e este é o nosso foco neste momento, Gurdjieff disse, "pessoas simples vão entender meu livro." Portanto, qualquer que seja a nossa solução final para os significados ocultos de Gurdjieff, uma coisa é certa - a solução
deve ser simples. E ela é. Chegar lá, entretanto, é outra questão. Chegar lá é como procurar uma clareira escondida em uma floresta, sobre a qual ouvimos a respeito de fontes confiáveis, mas não é tão fácil de encontrar. É como se o buscador estivesse forçando passagem por um bosque inexplorado em busca desse lugar claro, virando para cá e para lá, através de emaranhados de arbustos, passando ramos de espinhos e galhos que machucam o rosto e trazem lágrimas aos olhos, mas ainda assim ele não volta, porque, intuitivamente, ele sabe algo. De alguma forma ele está convencido em seu foco firme que em algum lugar à frente está a clareira que ele procura, e ele está determinado a encontrá-la. E essa pessoa vai encontrá-la. E quando ela finalmente o faz e entra nessa clareira ... Ah, não posso por a carroça na frente dos bois. De qualquer maneira, o que tal pessoa descobre naquela clareira você vai logo ver por si mesmo, isto é, se você tem essa mesma determinação focada e firme. Mas a sua viagem será um pouco mais simples porque agora seguimos um caminho marcado por alguns dos "antigos alunos" de Gurdjieff, os homens que foram, de fato, autorizados e preparados por ele para esse fim, autorização que iremos documentar em um capítulo posterior.
Mas não podemos esperar que esses “alunos antigos" façam todo o trabalho, temos nós mesmo de marcar as milhas, e devemos trabalhar para tornar a nossa viagem mais simples, limpando algumas das complicações desnecessárias que barram o nosso caminho, começando na segunda parte abaixo, por simplificar consideravelmente os complicados emaranhados daquilo que é chamado de metáfora e alegoria. Verdade, seus escritos são, ou parecem ser, complexos, mas essa é apenas uma das três versões - a versão externa, que é realmente complicada, e isso é em grande parte devido às aparentes contradições e absurdos que ele joga em nós, juntamente com o seus usos irônicos, sem mencionar o fraseado intencionalmente complicado e complexo de seu estilo. Mas o fato de seus escritos serem complicados e difíceis de penetrar está inteiramente de acordo com a sua função de agir como uma camada exterior, protetora.

Enterrando o cachorro
Gurdjieff várias vezes indicou que uma das razões pela qual ele realizava leituras em grupo de vários capítulos de seu trabalho em curso, era para que ele pudesse reescrever o texto para o efeito de "enterrar o cachorro" o suficiente para suas necessidades. Temos vários relatos similares ao que se segue de Bennett:
Se Gurdjieff pretendesse que seu significado fosse facilmente acessível a todos os leitores, ele teria escrito o livro de modo diferente. Ele próprio costumava ouvir capítulos lidos em voz alta e se descobrisse que passagens importantes fossem tomadas com muita facilidade - e, portanto, quase inevitavelmente, demasiadamente superficiais – ele as reescrevia para, como ele dizia, 'enterrar o cachorro mais profundo'. Quando as pessoas o corrigiam e diziam que ele queria certamente dizer "enterrar o osso mais profundo", ele se voltava a eles e dizia que não eram "ossos", mas o "cachorro" que vocês têm que encontrar. (Fazendo um Novo Mundo, p. 274)
Esse “cachorro" deve ser protegido, e, inicialmente, é a complexidade do estilo verbal de Gurdjieff, que serve a esse propósito. No entanto, uma vez que penetrarmos na segunda versão as coisas começarão a ficar um pouco mais claras, e quando finalmente chegarmos à terceira versão, a mais interna, seus escritos (e seu ensinamento) se tornará a própria simplicidade. Mas, para chegar a essa clareira, devemos aprender a simplificar, e isso se aplica mais do que apenas aos seus escritos, se aplica até mesmo a nós.
Se quisermos decifrar seus escritos, devemos aprender a nos tornar, como ele disse, "pessoas simples", cuja dificuldade e a importância vão além das palavras.
Agora, como um primeiro passo em busca dessa simplicidade, vamos esclarecer uma pequena e desnecessária complicação.


Metáfora, alegoria e outros.
Recentemente chamou-me a atenção que muitos ficam confusos ou até mesmo um pouco intimidados pela idéia de metáfora, considerando-a "
uma noz dura de quebrar." Não se preocupe, deixe-me compartilhar com vocês uma definição prática muito simples e confiável de metáfora, "Numa casca de noz”(em poucas palavras). 'Enrolando' metáfora e alegoria em um, a metáfora é o que você acabou de ler e é facilmente compreendido nas duas sentenças acima. É o uso de "numa casca de noz" no sentido de colocar alguma coisa de forma concisa. É o uso de uma "noz dura de quebrar", como significando algo difícil de "penetrar" ou compreender. Em ambos os casos, usamos alguma forma da universalmente entendida e comum "noz”, como substituto para o termo menos familiar - “metáfora”. É como se estivéssemos dizendo que a "carne" (significado) da "noz” (metáfora), está contida dentro da casca dura de quebrar do dispositivo. E não estamos nem um pouco preocupados com questões técnicas como, por exemplo, que palavra que servem como metáfora e metaforado, ao contrário, de acordo com nosso objetivo de simplificação, vamos começar simples e de daí torná-lo ainda mais simples. Para nossos propósitos, vamos aderir à seguinte definição prática global de metáfora: Uma coisa, bem conhecida, é usada para representar outra coisa, menos conhecida.
Então, 'acertei o prego na cabeça? "(acertei, prego), parafraseando Julian Jaynes em A Origem da Consciência na Repartição da Mente Bicameral, em nossa explicação acima, evidentemente, não há 'prego' para 'bater', não realmente, mas 'carrega' o pensamento (carrega), não é? Na forma simples isso é tudo o que há com relação a metáfora, se você 'chegar no meu ponto"(ponto) - agulhas e alfinetes têm pontos, palavras não têm pontos, têm significados. Se pensarmos nisso, vamos "ver" (entender) que a metáfora alastrou-se tanto, ficou tão comum em nossa experiência cotidiana linguística que raramente reconhecemos-na como tal, mesmo quando "tropeçamos" sobre ela. Nós usamos-na todos os dias. Não é tão "duro", afinal. Na verdade, a nossa língua está "cheia até a borda”, até mesmo 'transbordando' com metáfora. Não podemos “fugir” da metáfora, e se tentarmos temos tanta chance quanto "um floco de neve no inferno."
Agora, para chegar ao "âmago" da questão, é necessário que evitemos a eterna argumentação a respeito dos "pontos delicados" que é uma das “marcas características” dos “seres sábios”. Então, por favor, aceite minhas "sinceras" desculpas antecipadamente sendo que combinamos intencionalmente, conscientemente, e mesmo visivelmente todos os tipos de analogia - símile,
similitude, metáfora, alegoria, e para essa questão, para adicionar um 'tempero' especialmente delicioso, podemos jogar uma “
pitada” da parábola no nosso 'guisado' analógico cada vez mais diversificado. Do quê chamamos essas coisas é de pouco interesse para nós. É irrelevante. Mas, quando nos deparamos com tais itens nos escritos de Gurdjieff, a compreensão que eles representam crucial para nosso eventual entendimento de sua linguagem formo-figurativa, e, assim, seu verdadeiro ensinamento.
De maior interesse será o uso freqüente de Gurdjieff de palavras em pares com sentido metafórico como "sol” e lua", "cão" e "gato", e muitos outros pares de coisas que são mais ou menos opostas, e que são usados para representar outra coisa, menos conhecida, como as bastante abstratas força "afirmativa" e "negativa", o ativo e o passivo, bem como alguns itens mais "concretos" de nosso substrato neuroanatômico, por exemplo, aquilo que é muitas vezes chamado de "dois homens" em cada um de nós – a personalidade e a essência.
De qualquer modo, essa será a nossa definição prática - algo bem conhecido é usado para representar outra coisa, menos conhecida. Vamos deixar para os 'seres sábios de nova formação' a tarefa de discutir os méritos dessa simplificação - "Afinal", disse Belzebu, “eles têm que se ocupar com algo", enquanto que nós seguiremos para a tarefa mais produtiva de dominar as etapas que conduzem a uma compreensão da linguagem das formas de Gurdjieff e nossa eventual compreensão dos ensinamentos dentro da sua versão mais íntima. Para 'fechar o livro' sobre esta questão, então, vamos "embrulha-lo”, por assim dizer, dizendo que a compreensão da metáfora é tão fácil quanto como "rolar de uma tora”. Qualquer um pode entender; e todo mundo entende.
E alegoria é simplesmente a soma de algumas metáforas relacionadas. Ela pode ser comparada a uma metáfora composta que representa um sistema ou outro, na parte ou no todo, e que nós vamos 'cobrir' de um modo mais prático quando “chegarmos" na seção do animal alegórico dos Akhaldaneses com seu tronco de “touro”, pernas de um “leão”, “asas de águia”, e crescendo do pescoço, onde a cabeça deveria estar, os notáveis, famosos, e, oh, tão puros, "seios de uma virgem." Alegoria, então, é também um "pedaço de bolo", ou mais corretamente, a alegoria são vários "pedaços" do mesmo "bolo".
Assim, dando meu "
último tiro" sobre o assunto, 'vemos' que a metáfora é "fácil como uma torta." É tão simples que pessoas que não podem sequer soletrar a palavra metáfora usam-na todos os dias, e usam bem. Gurdjieff sabia disso e utilizava metáfora profusamente, as jogava como 'confetes em um desfile'. Então, vamos consciente e intencionalmente reconhecer nosso uso diário e simples da metáfora e, como Gurdjieff aconselhou, começar a aprender a dizer a diferença “entre o que deveria ser tomado literalmente e que deveria ser tomado metaforicamente." E isso é tudo o que há para isso -"tudo, total e todas as coisas”(‘lock, stock, and barrel).

Precisão
Agora, pessoalmente, eu gostaria de passar para os nossos primeiros esforços para decifrar o texto de Gurdjieff, no entanto, há um "pequeno" item que devemos considerar em primeiro lugar, o qual você vai achar não só interessante, mas útil em sua busca pela verdade.
"Se", o trabalho escrito de Gurdjieff é um trabalho codificados e contém significados escondidos, que como por definição qualquer Legominismo deve conter, e, "se" ele pretendia que, eventualmente, encontrássemos a chave e desbloqueássemos os significados, então é lógico e necessário que ele teria incluído dicas ou pistas que, quando descobertas e compreendidas, nos dariam a capacidade de decifrar o seu código. Essas pistas e indícios não poderiam ter sido feitas muito fáceis de ver, caso contrário, nada estaria muito escondido e não ofereceria proteção, e portanto, não haveria sentido no Legominismo. Nem poderiam ser muito difíceis, senão ninguém iria beneficiar - Jamais! Isso exigiu um equilíbrio delicado de sua parte - codificado, mas não impenetrável; escondido, mas não para sempre.
É relatado pela sra. de Hartmann, Sr. Orage, e outras pessoas envolvidas na tradução dos escritos de Gurdjieff em Inglês, que ele era às vezes muito exigente em termos da escolha de palavras usadas para representar o seu significado. Eles relatam que ele insistia em um grau de precisão que eles nem sempre podiam entender. Por exemplo, Olga de Hartmann escreve:


"O Sr. Gurdjieff, que ainda não fala muito Inglês, parou Orage e disse que o Inglês não correspondia de maneira nenhuma à sua idéia original. Eu tive que traduzir novamente para Orage, tentando ajudá-lo a compreender o que o Sr. G. desejava, embora eu estivesse certa de que a tradução de Orage era muito exata. "(Nossa vida com Gurdjieff, p. 128)
"Exata" ao nível literal das palavras e suas supostas definições, é uma coisa e é uma questão relativamente simples, mas se uma determinada palavra ou frase carrega também a intenção esotérica nos dois níveis mais profundos da metáfora e da forma figurada é muito mais problemático.
"Exato", então, no nível das palavras, era apenas um terço da consideração de Gurdjieff. Ele tinha que escolher as palavras, tendo em conta o seu significado pretendido nos três níveis, desse modo tinha de ser três vezes cuidadoso na escolha das palavras. Se aplicarmos a tendência geral de Gurdjieff para precisão na escolha das palavras especificamente para as dicas e pistas que sensatamente supomos que ele inseriu em seu texto codificado, então temos que perceber que ele escolheu e colocou essas pistas com cuidado, intencionalmente, com precisão e que qualquer alteração posterior naquelas palavras e frases cuidadosamente escolhidas poderiam facilmente perturbar o delicado equilíbrio da comunicação precisa de Gurdjieff. Mudar uma palavra aqui, uma palavra ali, e logo o saldo, em profundidade, é destruído, diminuindo as chances de jamais encontrarmos o ensinamento mais íntimo de Gurdjieff.
Por essa razão, dentre outras, no próximo capítulo, vamos considerar o efeito de tais alterações nos textos de Gurdjieff. E, como um bônus inesperado, quando examinarmos o efeito dessas mudanças, vamos encontrar a solução para o enigma do “pensamento oculto” de Belzebu. Na verdade, nosso próximo capítulo é dedicado quase inteiramente à um comentário misterioso.
Os benefícios desse tema vão logo se tornar aparentes, e, além disso, você está prestes a assistir a uma demonstração da surpreendente previsão do futuro de Gurdjieff, e você não iria querer perder isso por nada neste mundo!Aliás, ao procurar o “acorde conclusivo” de Belzebu, pode ser útil lembrar que Belzebu (o que quer que ele possa ser) é um 'personagem' do livro de Gurdjieff, através do qual Gurdjieff expõe
o que ele chama de "as várias facetas das minhas idéias" (Arauto, p. 45). E, além dessa declaração relativamente clara no Arauto, Gurdjieff nos dá vários identificadores singulares, dos quais três são: que ambos (ele e Belzebu) praticaram hipnoterapia, ambos escolheram a França como sua residência permanente e ambos bebiam café
, especificamente, no Child´s Café de Nova York.
É evidente que Gurdjieff está falando através da persona de Belzebu, já que é esse o caso, então, o “acorde conclusivo” de Belzebu é o “acorde conclusivo” de Gurdjieff, que é, naturalmente, seu último livro, A vida só é real
.
O leitor deve também lembrar da primeira intenção afirmada por Gurdjieff:
“Destruir, impiedosamente, sem o menor compromisso, no pensar e nos sentimentos do leitor,
as crenças e opiniões enraizadas nele por séculos, sobre tudo o que existe no mundo.”
No entanto, o que ser encorajador, pode ter certeza que de acordo com a segunda e terceira intenções afirmadas por ele, o que ele destrói, ele substitui.


Capítulo III

Pensamento oculto de Belzebu
(A Exposição de Gurdjieff a Revisão)
Gabo, um antigo aluno da Rússia, um dia lhe disse que ele estava comendo muita gordura e que isso não era bom para ele. Com um olhar de estranheza Gurdjieff perguntou: "Desde quando o ovo diz algo para a galinha?" (Viagem por este mundo, p. 80)
E Gabo não estava sozinho. Dizer para as pessoas o quê fazer e até mesmo como fazê-las é uma tradição de longa data do "homem", por isso não é surpresa que alguns dos alunos de Gurdjieff compartilhassem desse mesmo traço onipresente. O que é surpreendente é que eles tentavam dizer a Gurdjieff o que fazer, presumiam poder corrigir o seu professor. Mas eles não paravam no ponto de apenas oferecer sugestões para melhorar sua dieta, eles "corrigiam" a sua maneira de dirigir, a sua atitude para com as pessoas, a sua atribuição de responsabilidade e da escolha dos assistentes quando isso ia contra suas idéias de hierarquia, de importância e de categoria e, incrivelmente, alguns até questionavam a sua decisão quanto ao momento em que Relatos de Belzebu estaria pronto para publicação. Depois que Gurdjieff estava convencido de que o livro estava pronto para a impressão, muitos de seus alunos argumentaram contrariamente, alegando que precisava de mais trabalho. Por exemplo: Frank Pinder, que estava lá, perguntou a Gurdjieff "Por que você deseja publicar o Relatos de Belzebu agora? Cada página tem erros gramaticais, pontuação defeituosa e até mesmo erros. Ele deve ser devidamente editado. (Viagem, p. 242) Tal como Gabo, eram ovos tentando dizer algo para a galinha, mas Gurdjieff era experiente em afastar tais conselhos, e assim facilmente se manteve firme. Gurdjieff sabia quando seu livro estava pronto para seus propósitos, e, ao contrário de qualquer outra pessoa neste planeta, ele sabia do timing correto que era muito essencial. Na continuação do trecho acima Gurdjieff descreve a forma final do Relatos de Belzebu seu neto: "É um diamante bruto", disse Gurdjieff. "Não há tempo agora para editá-lo. Ela terá de ir." E então ele mandou-o para a editora sobre as objeções de muitos daqueles perto dele, e então começou a finalizar o seu plano para combater a Sabichonice (Wiseacring) inevitáveis que ele sabia que sem dúvida ocorreriam em breve.
O que é "Wiseacring" (Sabichonice)?
Revisão, disse Gurdjieff, foi o grande responsável pela perda de todos os ensinamentos dos séculos passados. Mas ele não a chamou de revisão, que teria sido direto de mais, ele chamou de "Sabichonice” (Wiseacring). Em um exemplo no qual ele tanto condena essa prática como deixa claro o seu significado para o termo, Gurdjieff, falando na pessoa de Belzebu, que está ele próprio citando o Buda, falando da ... maléfica particularidade em sua psique, chamada Wiseacring. Devido a esta particularidade em sua psique, os seres aqui já da segunda geração após o contemporâneos do mencionado Sagrado indivíduo que havia sido enviado do Alto, começavam gradualmente a mudar tudo o que ele tinha explicado e indicado, e tudo daquilo era por fim completamente destruído. (Relatos, p. 238)
Que o processo de completa destruição por meio de Wiseacring aplica-se a todos os Ensinamentos Sagrados fica claro com a continuação do trecho acima: “Repetidamente, o mesmo foi realizado pelos mais Altíssimos resultados Cósmicos comuns Finais, e cada vez os mesmos resultados infrutíferos foram obtidos.” Essa mensagem é indicada por Gurdjieff, repetidamente, às vezes sob a forma menos direta da metáfora. No Relatos de Belzebu a seu neto, a partir da página 586 até a 587 (ver o original) Gurdjieff prepara o pano de fundo e, em seguida, na página 588, falando metaforicamente, ele nos diz que nada sobrevive de tais ensinamentos - nada, além das cascas, as cascas ocas da sua dessecação, restos mumificados.” O significado de Gurdjieff (sua definição pessoal) para " Sabichonice" é encontrada repetidamente em várias outras passagens, bem como, por exemplo, Relatos de Belzebu, p. 734-735. Através de tal repetição Gurdjieff deixa claro que, por "Sabichonice" ele quer dizer: mudar, Revisar; e que na sua opinião bem estudada, os ensinamentos de todas os Mensageiros do Alto anteriores - todos eles sem exceção, foram perto da terceira geração destruídos e, portanto, foram perdidos para sempre para nós devido a essa mesma prática de Wiseacring (revisão). Ao longo dos séculos e milênios, essa prática tem sido tão difundida que tornou-se "a regra", e a resultante destruição desses ensinamentos sagrados representa uma perda grave para a humanidade. Infelizmente, parece que o Wiseacring não pode ser remediado ... Ou ... pode?

A montagem do Cenário
Conhecendo bem a tendência quase universal dos seres humanos de Sabichonar, Gurdjieff, é claro, sabia que seus próprios escritos não seriam exceção a essa regra, e, portanto, inevitavelmente, estariam sujeitos à temida Sabichonice. Na verdade, ele já tinha testemunhado o início do movimento de revisarem as suas obras. Conforme mencionado, durante a preparação final dos Relatos de Belzebu para a publicação, alguns dos alunos de Gurdjieff estavam audaciosamente dizendo-lhe como melhorar seu texto, do qual, por sua própria admissão, podiam entender muito pouco. Mesmo seu tradutor chefe, Orage, não estava certo sobre o seu significado, como ele nos diz em seu comentário sobre Belzebu: “Embora eu tenha falado sobre os capítulos com Gurdjieff e discutido o sentido deles, ele nunca explicava o significado de nada. A tarefa dele é escrever o livro, a nossa é fazer o esforço para compreender.” (Ensinamentos, p. 125)
O impulso para a "correção" e revisão, então, foi bem estabelecido antes da morte de Gurdjieff, e sem a força de sua presença contínua esse impulso só poderia ficar mais forte e mais insistente depois. A fim de combater os efeitos destrutivos da revisão, Gurdjieff precisava de um “milagre”. Dado o seu conhecimento, com base na observação direta e pessoal do início do movimento de revisão de seus textos, e sabendo que com sua idade e estado de saúde ele não viveria tempo suficiente para supervisionar a publicação de todas as suas séries, e, consequentemente, controlar e proteger a integridade de sua palavra escrita, Gurdjieff certamente sabia que sem um milagre, sem uma intervenção como se "do Alto", os efeitos das sabichonices inevitavelmente mudariam e, eventualmente, destruiriam suas obras, como destruíram todos os ensinamentos do tipo. Sabendo disso, consideremos agora – que medidas Gurdjieff poderia ter tomado; que "milagre" ele poderia ter "conjurado" para proteger e preservar o seu ensinamento da destruição pela revisão?


A Preparação
Uma vez que Gurdjieff esteve pessoalmente supervisionando a preparação dos Relatos de Belzebu e tinha o controle sobre a forma final do texto publicado, e tendo em vista o fato de que, sendo o autor também dos Encontros com os notáveis homens e Vida só é real, ele poderia coordenar qualquer parte dos seus livros na forma que escolhesse, Gurdjieff desenvolveu um armadilha inteligente e discreta, uma armadilha para apanhar e expor aqueles que com base em todos os precedentes históricos poderiam certamente revisar os seus escritos e mandar, portanto, o seu ensinamento todo para um eventual esquecimento. Tendo armado sua armadilha ele poderia, então, descansar no conforto de saber que, apesar dele não estar presente em carne e osso para evitar a revisão de seus livros, ele poderia pelo menos postumamente, como se "do túmulo," expor e demonstrar a grosseiras distorções e deficiências da revisão.


A Armadilha para a Revisão chamada "O Suplemento"
No livro de introdução à sua terceira série, A vida só é real, Gurdjieff inclui uma seção do último capítulo do Relatos de Belzebu a seu neto, seção que é denominada em ambos os livros pelo título, "O Suplemento". Um exemplo do "Suplemento" (Relatos de Belzebu) sobrevive na forma original, mas o outro, conforme encontrado na vida só é real, que foi publicado muito tempo depois de sua morte, foi, de acordo com todos os precedentes históricos, amplamente revisado. Assim, e por meio da inteligente provisão de Gurdjieff, temos agora duas versões daquela "mesma” palestra para fazermos a comparação: o original como é encontrado no Relatos de Belzebu a seu neto, protegido e pessoalmente levado à editora em sua forma final por Gurdjieff, e a suposta mesma palestra como encontrada na Vida só é real, que de acordo com seu prefácio é uma replicação"palavra por palavra", mas que, como esperado plenamente por Gurdjieff, foi então alterada.
Assim, temos as versões Antes e Depois de "O Suplemento" para a nossa avaliação pessoal das “bênçãos” da revisão. Então, vamos tirar proveito da oferta de Gurdjieff e comparar as duas versões - mas não a palestra inteira, pois é muito longa para os propósitos do presente capítulo. Em vez disso, vamos olhar um parágrafo curto, um já familiar à maioria dos estudantes dos escritos de Gurdjieff, apresentados a seguir primeiro em sua forma original como encontrada nos Relatos de Belzebu, seguido pela Revisão encontrada na Vida só é real. Desta forma, podemos com nossos próprios olhos ver a extensão das alterações introduzidas e julgar por nós mesmos se a revisão é uma melhoria do original, ou o contrário. Anteriormente ao parágrafo que vamos examinar Gurdjieff estava falando das duas correntes da vida, a comum que leva para as regiões inferiores nas entranhas da terra, e a outra que leva para a liberdade do oceano sem limites, e da possibilidade, para alguns, de passar de uma corrente para a outra. Na comparação que estamos prestes a ver, notavelmente, a primeira frase do original corresponde ao primeiro parágrafo da revisão, e a segunda frase ao segundo parágrafo. E conforme você revê as duas versões tenha em mente que, segundo Gurdjieff, "O Suplemento", como é encontrado na Vida só é real deveria ser uma réplica"palavra por palavra" de “O Suplemento" encontrado no Relatos de Belzebu a seu neto. Agora, prepare-se.

O Suplemento"
Original - Relatos de Belzebu, p. 1232:
C
ruzar para a outra corrente não é tão fácil - simplesmente desejar e você atravessa. Para isso, é necessário antes de tudo conscientemente cristalizar em vocês mesmos dados para engendrarem em sua presença comum um constante impulso de desejo insaciável por esse cruzamento, e então, depois, uma longa preparação correspondente.
Revisto - A vida é real, p. 108:
Quanto à possibilidade dessa passagem para um homem que em sua idade responsável já entrou na corrente da "região inferior", embora seja dada pela Grande Natureza, devo adverti-lo, a fim de não provocar em você, por assim dizer "ilusões alegres" a respeito dessa possibilidade de cruzar de uma corrente para a outra, que não é tão fácil - simplesmente desejar e você atravessa.
Para isso é indispensável, com uma consciência constantemente ativa, em primeiro lugar com uma intensidade muito grande para se obter a cristalização intencional em si mesmo dos dados para engendrar em sua presença comum um impulso insaciável de desejo por essa passagem, e depois seguirá uma longa luta interior, que exige uma grande tensão de todas as forças internas, com as óbvias anormalidades cristalizadas em sua individualidade e evidentes, mesmo para o próprio auto- raciocínio, isto é, uma luta com os hábitos cristalizados, indignos para o homem, mesmo em seu próprio entendimento, em um período de repouso, o que contribui, em primeiro lugar para o surgimento em nós do nosso "Deus-Maligno" interior e, segundo, para apoiar e aumentar em nós o seu poder e força sempre e em tudo, isto é, esse 'Deus-Maligno", cuja presença cria condições ideais, especialmente nas pessoas contemporâneas, para desfrutar de um estado de "paz" imutável – resumindo, serão exigidos todos os tipos de preparações correspondentes, muito complicadas e difíceis
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Surpreendentemente, um único parágrafo simples de Gurdjieff de 53 palavras foi "inchado" pela revisão em um parágrafo duplo de 237 palavras - um nível escandaloso de revisão!

E aí, graças à inteligente e cuidadosamente definida armadilha revisão de Gurdjieff, vemos de forma inequívoca, e pelo projeto de Gurdjieff, a multidão de "bênçãos" de revisão, contendo, como o Mullah diz, (Belzebu, p. 322):
"... tudo nela exceto a essência ou até mesmo o âmago."
As alterações introduzidas são tão diversas, com tantas idéias estranhas invadindo o original, que se eu tivesse apenas ouvido falar de tal revisão extensiva eu teria preferido achar que eram meros boatos. Mas neste caso, eu vi com meus próprios olhos, e agora você viu isso com os seus - ou, pelo menos você verá, quando, seguindo o excelente conselho de Gurdjieff para verificar tudo, você verificar o que foi citado acima por si mesmo nas fontes originais. E quando você comparar as duas versões, como preparação para o que se segue neste livro, tente algo “novo”. Ou seja, leia as passagens, mas depois esqueça as palavras e se concentre nas imagens evocadas por essas palavras. Afinal, este livro está preocupado com a linguagem figurativa de formas de Gurdjieff, e em termos de retratar, em alto contraste com o original de Gurdjieff, que evoca uma imagem relativamente simples de alguém com o desejo de cruzar da corrente comum de vida para a outra, a revisão evoca um confuso mosaico de imagens desconectadas, que não só é inútil, mas até mesmo produz efeito contrário. As imagens simples despertadas pelo parágrafo original de Gurdjieff é destruída pela desorganização tangencial da revisão.


A terceira versão (Série)
A terceira versão do Legominismo de Gurdjieff, que nós procuramos, é na verdade a terceira série em plena forma e profundidade, elas são uma e a mesma coisa. Mas a terceira série, como o “pensamento oculto de Belzebu”, que é uma parte dessa série, está escondida. E o livro, A só vida é real, é a introdução essencial, mas apenas a introdução, para essa série de quatro livros, como Gurdjieff nos "diz" na página 58 de A Vida só é real: Neste livro introdutório da terceira série, vou expor a essência "de cinco palestras ...
A vida só é real pode ser um livro um pouco fino, mas ele não está sozinho. É apoiado por secções selecionadas de três outros livros de Gurdjieff. Ele descreve a sua terceira série (Arauto, p. 49) como sendo: "Em quatro livros sob o título comum de "A vida só é real quando 'eu sou' ".
Gurdjieff manteve sua promessa, ele completou a terceira série, mas como com o "pensamento oculto de Belzebu", temos de desenterrá-la. Ele nos "diz" isso de várias maneiras e em vários lugares (itens que cobriremos mais tarde) e, de sua forma indireta usual, ele mesmo nos fornece as informações necessárias de como desenterrar.
A terceira série não foi muito notada, simplesmente porque, como "pensamento oculto de Belzebu", a maior parte da terceira série está oculta. Repetindo: "o pensamento oculto de Belzebu" faz parte da terceira série, que é a razão pela qual os revisionistas caíram na armadilha de Gurdjieff, naturalmente - porque não podiam vê-la. Como disse Gurdjieff, a terceira série será acessível apenas para aqueles que forem capazes de compreendê-la. Ele nos diz que ela teria de ser descoberta: A forma de exposição dos meus pensamentos nesses escritos pode ser entendida exclusivamente por aqueles leitores que, de uma forma ou de outra, já estiverem familiarizados com a forma peculiar do meu pensar. (A vida só é real, p. 5) E ele não alterou essa forma posteriormente. Ao contrário, ele propôs uma outra solução, que vamos ver mais tarde.
A terceira série está em nossas mãos, mas ainda não está em nossas mentes - não podemos compreendê-la - ainda. Mas a terceira série (seu "cachorro) está enterrado dentro dos escritos de Gurdjieff, completamente intacta e esperando, e vamos chegar a ela antes de terminarmos com este livro. Ainda assim, e mesmo nesta fase inicial de nossa investigação, você deve se sentir encorajado que, em sua revisão de "O Suplemento", você teve seu primeiro vislumbre da muito prometida e aguardada terceira série de Gurdjieff. Esse cachorro "foi” habilmente enterrado, na verdade. Como resumo temporário: independentemente de se a revisão foi feita de boa-fé proveniente da imaginária "necessidade" de ser feita, ou seja qual for a desculpa, Gurdjieff sabia que Wiseacring visitaria (quase) todos os seus livros, e ele preparou uma correção para essa inevitabilidade por (entre várias outras medidas tomadas, uma das quais será discutida no momento devido) sua inclusão de duas ocorrências de "O suplemento", que ele então trouxe à nossa atenção dispersa, desafiando-nos a encontrar o “pensamento oculto” de Belzebu. Vamos nos provar dignos dos esforços dele. Agora, a idéia de que a provisão de Gurdjieff para o ato inevitável de "Wiseacring" foi consciente e intencional, até agora, tratada como certa, auto-evidentes, que na minha opinião é como deveria ser. No entanto, alguns podem estar inclinados a considerar que a provisão de Gurdjieff, embora seja reveladora, foi mero acaso ou acidental, em resposta a isso vamos agora procurar apoio para o fato que a provisão de Gurdjieff foi feita consciente e intencionalmente, e visava especificamente a tarefa de expor e combater os efeitos do Wiseacring, exposição que é de grande importância para aqueles que procuram a terceira versão dos escritos de Gurdjieff, e igualmente importante em termos da integridade e continuidade de seu Legominismo.
Documentação de Gurdjieff das Intenções
Como mencionado anteriormente, a fim de evitar os efeitos destrutivos da revisão (Wiseacring), que minou e, finalmente, destruiu todos os ensinamentos anteriores, Gurdjieff necessitava nada menos que um milagre. Mas não desejando deixar a questão para os deuses do acaso, ele sabiamente inventou um "milagre" de sua própria criação. Fica claro que sua provisão foi consciente e intencional e, especificamente concebida para expor e combater os efeitos do "Wiseacring", mas apenas por uma estreita examinação da documentação apresentada nas observações de abertura de "O suplemento" em ambos os livros.
Nas páginas de Belzebu 1188-1189, Gurdjieff amarra juntas as duas ocorrências de "O suplemento", e lança o desafio:
Eu acrescentei justamente essa palestra especial porque ... enquanto ele estava sendo lida publicamente da última vez, aconteceu de eu estar presente naquela reunião numerosa, eu fiz um suplemento que plenamente correspondia ao pensamento oculto apresentado pelo próprio Sr. Belzebu em seu, por assim dizer, “acorde conclusivo”...
Assim, trazendo "essa palestra especial" (que inclui "O Suplemento") à nossa atenção e, ao mesmo tempo firme e diretamente ligando esse "suplemento" ao “pensamento oculto” de Belzebu - juntamente com o desafio implícito para resolvermos o mistério . Em outras palavras, ele nos desafiou!
Mais direto ao ponto e muito mais forte, nas observações introdutórias ao "Suplemento", como encontrado na vida só real Gurdjieff nos fornece pelo menos cinco ligações ou indícios (os detalhes) de seu plano. Ao falar da relação entre o Relatos de Belzebu e sua palestra em curso, na "Terceira Palestra" na página 104, encontramos:
Por exemplo, com o objetivo na reunião de hoje de falar sobre uma questão que está baseado em dados que eu já elucidei mais ou menos (1) no último capítulo (2) do terceiro livro, nomeadamente no capítulo intitulado "Do autor," as deliberações sobre a questão proposta hoje deve ser como uma continuação (3) deste capítulo.
Com essa frase Gurdjieff nos diz: (1) Os “dados” são pré-existentes. (2) Que os “dados” serão encontrados no último capítulo do Relatos de Belzebu a seu neto, intitulado “do autor”. (3) Seu discurso atual é uma continuação daquele capítulo, o que implica fortemente que eles deveriam ser tomadas e estudadas em conjunto, como um todo. E então (4), ele identifica a seção relevante pelo nome: No presente caso, é requerido principalmente o conhecimento daquela parte do último capítulo chamado "O suplemento", que ... E (5) finalmente, como se a pregá-lo, ele apresenta "O suplemento" na página 105 com a seguinte frase: Palavra por palavra, o conteúdo desses extrato é o seguinte: A expressão "Palavra por palavra" é ainda mais um convite ou um desafio, quase implora para ser verificada. Depois segue-se (a forma de revisada) "O suplemento", que, como qualquer um pode ver claramente, não é nada de "palavra por palavra." Na verdade, pela maneira em que Gurdjieff incorporou essa informação dentro do contexto dessas páginas, e pela maneira em que ele habilmente quebrou-a com várias interrupções, ele a enterrou apenas com a profundidade suficiente para que passasse desapercebida por um período de tempo relativamente curto (meio século!), mas isso era tudo que ele precisava. Os revisionistas perderam as pistas dele e morderam a isca. Em outras palavras, em uma ocorrência de "o suplemento”, Gurdjieff nos remete à outra, e na outra ele nos remete à primeira, dizendo-nos que a segundo é uma continuação da primeira. É assim tão "simples". A mera existência de tais referências cruzadas é a confirmação de que a provisão de Gurdjieff foi ao mesmo tempo consciente, e destina-se à mostrar o Wiseacring. Mas, primeiro, Gurdjieff tinha que assegurar-se de que a palestra seria publicada na forma original, daí a razão para ele cuidar pessoalmente, que todos os detalhes para a publicação dos Relatos de Belzebu a seu neto fossem finalizados com a editora antes de sua morte. Aquele original inalterado proporcionaria a linha de base para a nossa posterior comparação com a versão revisada de "O suplemento", e, como tal, era uma parte indispensável de sua armadilha. Em seguida, e com uma

abundância de referências cruzadas levemente escondidas, em vez de apenas referir-nos à passagem relevante em Relatos de Belzebu, ele de outra maneira desnecessariamente inclui aquela mesma palestra, na íntegra, em A vida só é real, cuja forma final poderia, com total confiança baseada em todos os precedentes históricos, ser deixada para as várias forças que se expressam nessa forma de fraqueza da natureza humana que ele chamou de Wiseacring. Então, só para ter certeza, ele nos desafiou a encontrar o “pensamento oculto” de Belzebu.


A' hem!
Devemos notar: Esta é provavelmente a primeira vez em toda a história da humanidade que tal façanha incrível póstuma foi realizada. Nenhum professor anterior jamais antes efetivamente desafiou os efeitos da oitava descendente. Nem Moisés, nem Jesus, nem qualquer outro - nenhum, nunca antes voltou do túmulo para corrigir isso publicamente e repreender aqueles que sabichonaram seu ensinamento. Mas Gurdjieff fez exatamente isso. Ele conhecia a lei, e ele previu. Essa façanha não deve ser esquecida ou minimizada, nem o professor que contra todas as probabilidades concebeu e implementou tal corretivo extraordinário deve ser subestimado.
Podemos dizer, no mínimo, que Gurdjieff que conhecia bem a medida de seus semelhantes, em geral, e em particular ele conhecia as fraquezas e defeitos inerentes de seus alunos, bem como de seus seguidores posterioresr. Tudo somado, Gurdjieff era tão inteligente quanto revisionistas eram tolos. Ele estava tão acordado quanto eles estavam dormindo. Assim, como previsto pelo professor Gurdjieff, vemos em plena luz do dia, as generosas "Bênçãos da Revisão", para tal previsão extraordinária, só podemos dizer: Obrigado Sr. Gurdjieff.


Revisão e a Linguagem da Forma
Agora, o principal foco e objetivo principal deste livro é, e continuará a ser, apesar de todos e quaisquer obstáculos, o “método” de instrução de Gurdjieff para que nós, individualmente, e cada um segundo sua própria medida de ser, nos tornemos capazes de ler as instruções dadas na terceira versão, através da inculcação ilustrativa expressada em linguagem formo-figurada. Apesar de possivelmente parecer o contrário, nosso objetivo não mudou, nem vai mudar. No entanto, para nós - isto é, para aqueles que buscam decifrar seus significados ocultos, se você der a esse tema mesmo que uma pequena quantidade de pensamento, você vai ver claramente que se Gurdjieff pretendia comunicar conosco por meio de uma linguagem de ícones ou formo-figurada, então, a revisão com a distorção das imagens anterirmente claras de Gurdjieff vão complicar a questão se tentamos discernir suas imagens criadas por palavras e os significados dessas imagens. Assim, o tema da revisão tem uma influência direta sobre o nosso tema da linguagem de forma e imagem, e os efeitos da revisão devem, em alguma medida, ser levados em conta. Se quisermos compreender os “significados ocultos por trás das palavras", devemos primeiro ser capazes de ver claramente as imagens que ele constrói com essas palavras.
Especificamente, nos capítulos seguintes, devemos nos tornar capazes de ver e identificar suas "inexatidões conforme as leis" (Relatos, p. 461, 476), teremos de ver claramente, como se num lampejo, os “monumentos"," Dólmenes" e as “bandeiras "(Encontros, p. 150-1, 272), pelos quais Gurdjieff marca os locais importantes e nos alerta para os locais de interesse particular, e pelos quais ele dá a nós viajantes orientações necessárias em nossa jornada através de regiões desconhecidas próximas, e devemos "ver" bem o suficiente para reconhecer uma ponte ou uma frase-chave, quando chegarmos a ela. Para isso vamos precisar de uma percepção exata da comunicação precisa de Gurdjieff, que é melhor e mais confiavelmente (apenas) alcançada se os seus escritos são retransmitidos a nós precisamente - ou seja, como escritos na forma não-revisada e ainda não corrigida, os supostos defeitos e tudo mais. Uma vez que o gênio de revisão, ou mesmo da "correção", foi deixar fora de sua lâmpada, bem, veja por si mesmo - dê uma outra olhada nas duas versões de "O suplemento". O texto original, ou um "diamante bruto” sem ser polido, é muito mais valioso que qualquer bijuteria bem polida e brilhante, e isso é verdadeiro para todos os livros de Gurdjieff. Foi pretendido por Gurdjieff, e é razoável esperar que nós mesmos façamos o “polimento” necessário. Na verdade, aí se encontra uma grande parte do valor de nossa luta.